Entrevista
José Pedro Zúquete: "A imigração é o Ferrari do Chega"
21 ago 2025 08:00
O politólogo diz que, apesar da crise, do descontentamento social e da austeridade, da década passada, para criar o actual ambiente fértil onde o populismo cresce, foi essencial a imigração desregulada. Para ele, este é o factor principal para a ascensão da extrema-direita, ao criar narrativas e dando voz ao descontentamento identitário
A crise do subprime, de 2007, e a última década e meia, marcada em Portugal, última década e meia, marcada em Portugal, primeiro pela austeridade, depois pelo crescimento económico explosivo potenciado pelo turismo, e em simultâneo, a falta de habitação e, para terminar, uma pandemia, são o cadinho perfeito para a explosão dos nacionalismos? Falta algum ingrediente para a ascensão do populismo e da extrema-direita entre nós?
Diria que falta um ingrediente essencial, em Portugal. Sempre houve aqui, por parte do público, uma procura por um movimento que fosse anti-sistema, mas não havia oferta. Não havia alguém, com talento, que fosse capaz de capitalizar o descontentamento e frustração que se traduz na questão económica, na desconfiança relativamente à democracia e à sensação de que ela não representa toda a gente, masque é representante de uma partidocracia e de corpos não eleitos, como os juízes, que não representamo povo e que, muitas vezes, tentam impor um modelo de sociedade que não tem o apoio popular. Essa desconfiança relativamente às instituições um factor importante para a erupção do populismo em Portugal. Mas aquilo que veio realmente impulsionar o populismo foi a imigração e as mudanças demográficas, sobretudo, nos últimos dez anos. A imigração está na base da reordenação actual do sistema partidário português. Muitas pessoas sentem que perderam as suas referências culturais identitárias, há a sensação de que o País já não é nosso, que os portugueses são estrangeiros na sua própria terra. Se tirarmos a questão da imigração de toda esta análise, todos os partidos populistas de direita, na Europa, perderiam importância e seriam irrelevantes. Houve mudanças demográficas profundas. Temos muitas pessoas do Brasil, do subcontinente indiano, de África e tudo isto gerou uma sensação de insegurança cultural e identitária. Não devemos ter problemas em falar disto de forma aberta, porque se não o fizermos, outros falarão fá-lo-ão de forma mais violenta. Temos de perceber qual é a raiz para toda esta comoção que está a acontecer nas nossas cidades, porque as pessoas têm o direito a serem ouvidas, relativamente ao que, para elas, está mal nas políticas de imigração.
O sistema liberal foi rasteirado pela sua abertura em acolher todos, todos, todos?
No meu livro Os Identitários, escrevi que, para os identitários, a grande divisão nem sequer é de esquerda ou direita, mas de universalismo e particularismo. O universalismo, patente no liberalismo, coloca o indivíduo à frente dos interesses da comunidade. Já o populismo põe os interesses da comunidade acima dos do indivíduo. Há aqui um choque frontal claro entre o liberalismo e o populismo. Os liberais dizem que os populistas levam à tirania das maiorias e os populistas dizem que os liberais levam à tirania das minorias. Ou seja, referem uma série de grupos, de oligarquias, organizações não-governamentais, corpos não-eleitos, media, movimentos académicos, que decidem “em nome do povo, mas, contra o povo”. Decidem a favor das minorias e não em termos de maiorias. E a questão do particularismo e universalismo está na base dessa rejeição identitária daquilo que está a acontecer na Europa. O movimento identitário, que está a crescer, quer substituir o conservadorismo pelo identitarismo, como a ideologia de fundo da direita. Esta direita, não é a direita dos nossos pais, não é a direita dos nossos avós, é uma direita mais agressiva, mais exclusivista, mais territorial. É uma direita que não é eufemística, no sentido de que identifica os problemas, diz quais são e apresenta soluções, soluções radicais. Vão à raiz daquilo que eles vêem como a “fonte do mal”, e da destruição das nações europeias. A “fonte do mal” é, para eles, o universalismo liberal que põe os Direitos Humanos acima dos direitos dos povos
Sabia que pode ser assinante do JORNAL DE LEIRIA por 5 cêntimos por dia?
Não perca a oportunidade de ter nas suas mãos e sem restrições o retrato diário do que se passa em Leiria. Junte-se a nós e dê o seu apoio ao jornalismo de referência do Jornal de Leiria. Torne-se nosso assinante.