Sociedade
Waldemiro Júnior (Junhão): “A gente precisa de aprender muito com vocês”
A aposta no turismo tem guiado o prefeito de Ourém do Pará, que vê na geminação com Portugal uma ferramenta para enriquecer o conhecimento técnico da população
Há perto de uma década, Waldemiro Júnior, por todos reconhecido como Junhão, era prefeito de Ourém do Pará quando começou a ser elaborada e foi apresentada a proposta de geminação com Ourém de Portugal. No momento em que o acordo de cooperação foi finalmente assinado, em 2022, encontrava-se na assessoria do Governo do Pará, sendo reeleito prefeito no início deste ano.
Reconhecendo-se o “primo pobre” desta relação de cooperação, admite que o município brasileiro tem mais a receber do que a contribuir, embora não despreze o legado cultural e a dinâmica ambiental, ligada à Amazónia, que pode trazer a Portugal. Numa relação separada pelo oceano Atlântico e diversas assimetrias sociais, Ourém do Pará olha o seu futuro através das promessas do turismo ecológico e do turismo religioso.
Balneário Aracu, vila de Fátima. Numa cabana rústica, pintada de azul, junto a um igarapé de águas límpidas, numa zona de mata, num dia quente e húmido, as boas vibrações lêem-se e sentem-se em cada canto da praia fluvial. As estruturas de madeira ribeirinhas multicolores, típicas da Amazónia, enquadram-se numa paisagem repleta de baloiços, corações de flores artesanais e redes sobre o ribeiro de águas baixas, num cenário a pensar no Instagram. O sol entra, rarefeito, mas nunca queima.
Este é o pano de fundo simbólico ideal para nos sentarmos à conversa com o prefeito Waldemiro Júnior, pois enquadra a sua aparente visão estratégica para o município: a aposta no turismo ecológico e no turismo religioso. Estamos a falar de um território com pouco mais de 19 mil habitantes, segundo os dados do último Censo disponíveis, e 520 km², cuja população vive sobretudo da agricultura de subsistência (50%) ou dos serviços públicos (30%), segundo dados do autarca. A actividade industrial mineira, ligada ao seixo e também à cerâmica, não chega aos 15%.
Neste contexto, a ligação a Ourém de Portugal tem como foco, segundo explica Junhão, a aprendizagem, para posterior investimento no município brasileiro. “Em Maio completámos 272 anos de emancipação política e sabemos que Ourém de Portugal está além dos 700 anos. Vocês têm uma experiência mais longa que a nossa e a gente precisa de aprender muito com vocês: na parte empresarial, na parte cultural, na religiosidade, no meio ambiente, na agricultura”, reflecte.
O objectivo passa por envolver cada vez mais a população “ouremense”, como aqui é designada, nas dinâmicas geminatórias, no intuito de que adquiram ferramentas para um desenvolvimento mais eficaz e produtivo no território. “Queremos ver o nosso povo crescer”, sublinha o prefeito, “da cultura do nosso povo crescer e da sua vida financeira, para que a pessoa consiga retirar o seu sustento e ter qualidade de vida”.
A nível local, a aposta de Junhão aparenta passar pelo turismo, quer na vertente ecológica, quer através da religiosidade. “A nossa cidade tem o potencial de crescer pelo turismo”, afirma, “temos seixeiras e cerâmicas, mas isso é esgotável, vai acabar”. “Pelas nossas florestas, pelos nossos igarapés, pelo nosso Guamá, pelo nosso acolhimento cultural, pela nossa religiosidade é preciso trabalhar forte a questão do turismo. Turismo que traz renda para as pessoas, um turismo ecológico e turismo religioso”, enumera o autarca.
Se o ecoturismo – uma vertente ligada à relação sustentável entre o ambiente e as comunidades – surge quase por si mesmo, o turismo religioso é uma área de desenvolvimento recente. Existindo um culto estabelecido a Nossa Senhora de Fátima e uma grande religiosidade católica na comunidade, a mudança de toponímia de Furo Novo para vila de Fátima abriu espaço à ambição de criar ali um santuário amazónico àquele que é hoje um dos maiores símbolos da portugalidade.
A ideia actual passa por ir ao encontro de “pessoas que não podem ir a Portugal” e que poderão encontrar na localidade uma representatividade da devoção católica. Crescer através da religiosidade foi, inclusivamente, um tema discutido com o Ministro do Turismo, Celso Sabino, numa passagem recente pelo território, adianta o prefeito.
No ano da Cimeira do Clima (COP30), a decorrer de 10 a 21 de Novembro em Belém do Pará, a pouco mais de três horas de distância – por aqui é considerado “já ali” ao lado – a periferia prepara-se para receber o impacto da passagem de grandes investidores e políticos internacionais pela Amazónia. Por tal, é necessário criar valor, atrair investimento para mais alojamentos e infra-estruturas. Tal só pode ser conseguido, reflecte Junhão, dando-se a conhecer ao mundo. Mostrar “como se vive dentro da Amazónia”.