Entrevista

Jani Zhao, actriz: “Em termos humanos, estamos a regredir na coisa mais básica, a empatia”

25 jan 2024 10:00

Natural de Leiria, podemos ver Jani Zhao no segundo filme Aquaman, uma produção de Hollywod. Dinâmica e pragmática, usa a visibilidade que isso lhe trouxe para falar de vários temas sociais difíceis

Jani Zhao
Fotografia: Ricardo Graça
Jacinto Silva Duro

Conhece a campanha de promoção territorial que pegou na ideia difundida na rede social Reddit que diz que “Leiria não existe”, aplicando uma espécie de psicologia inversa? Leiria existe para a actriz Jani Zhao?

Os sítios existem como nós os pensamos. Leiria, para mim, é e sempre será, um sítio que representa a ideia de casa, que representa crescimento, que representa aventura, que representa uma certa rebeldia. Passei várias fases da minha vida em Leiria, desde bebé, que não sabia falar e andar, até à infância e as possibilidades de brincadeira e descoberta da identidade, depois a pré-adolescência, a fase de alguma rebeldia e aventura. Apesar de não viver em Leiria há muitos anos, vivi intensamente os tempos que lá passei, porque também ia nas férias escolares. As de Verão, que eram de três meses, até ao Natal, depois o Carnaval e a Páscoa. Eram temporadas, não era uma coisa de fim-de-semana e depois voltar a Lisboa. E eu e o meu irmão íamos sozinhos, porque a minha mãe e o meu pai ficavam a trabalhar, por isso, havia uma liberdade imensa. 

Costuma regressar?

Regressei, mas não reconheço a Leiria que há em mim. Leiria mudou muito e ainda bem. Sou a favor da evolução e de que as coisas mudem e se transformem. Mas, é sempre uma visita muito nostálgica. Ultimamente, não têm sido pelas melhores razões, porque houve familiares que faleceram e tenho de ir e ajudar a tratar de tudo, porque é o mínimo que posso fazer à família que também nos acolheu, que nos ajudou, que nos educou... Ainda assim, sempre que lá vou é sempre motivo de um grande reencontro e alguma angústia.

Manter a sociedade ignorante, dá muito jeito a quem está no topo

Jani Zhao

Quando fecha os olhos e pensa em Leiria, qual é a primeira imagem que aparece na mente?

Visualizo a Gomes Freire, que era a rua da casa da nossa avó, onde também vivia a família que nos acolheu, e o Centro Comercial D. Dinis. Eu o meu irmão crescemos naquele centro comercial, com aquelas pessoas, naquelas escadas rolantes, naquele café, naquela papelaria, na rádio 94 FM. Não havia muitos asiáticos em Leiria na época. Lembrou-me que havia uma família chinesa, com quem nos demos durante uns tempos, portanto, não éramos os únicos. Quando fui morar para Cascais, já senti uma maior diferença... mais sentida. É engraçado, não é? Leiria, não existe, mas, para nós, existiu muito e há de sempre existir. Leiria sempre foi um lugar muito seguro, muito confortável, muito acolhedor, também pela família que lá tínhamos. Hoje, a cidade está diferente, eu sinto que não a reconheço, mas não quer dizer que seja mau. Estão vivos na memória os sítios por onde andava antes, tão queridos, carregados de vivências, de cheiros, é mesmo um sítio muito especial, porque nenhum canto daquela cidade está isento de alguma história, para mim. A casa da minha avó, entretanto, foi vendida há uns anos e nós não tivemos a possibilidade de nos despedirmos

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