Entrevista

Artur Mateus: "Provavelmente na Universidade de Coimbra vou competir com o CDRSP"

18 jan 2024 09:00

Professor, investigador e ex-director do Centro de Desenvolvimento Rápido do Produto, do IPLeiria, lamenta que o ensino não se tenha desenvolvido ao ritmo da indústria

Artur Mateus
Ricardo Graça
Daniela Franco Sousa

Soma 27 anos de docência e de investigação no Politécnico de Leiria. Em qual dos ambientes está mais confortável?
Investigação. Porque provavelmente passei mais tempo na investigação. Gosto da docência, no entanto ao longo do tempo criei um certo desencanto. Não é pela docência propriamente dita, é pela forma como hoje em dia ainda transmitimos o conhecimento e pela forma como está montado o sistema entre as obrigações dos professores e os deveres dos alunos. Entre 1997 e 2004, estive sempre a leccionar a 100%. Em 2004, tive uma bolsa de doutoramento e acabei por ficar sem dar aulas durante algum tempo. E logo a seguir, criámos o CDRSP. Tornei a dar aulas em 2018, 14 anos depois. Quando voltei a dar aulas, senti-me fora do aquário. Em termos de maturidade dos alunos, essa visivelmente tinha decrescido muito. E em termos da forma como se pode transmitir o conhecimento, está muito condicionado a um conjunto tão apertado de regras e procedimentos, que não dá liberdade nenhuma a qualquer docente para fazer algo novo nas aulas, mesmo que seja muito pertinente. Isso é logo directamente aniquilado por aquilo que é o plano no início do ano, que é usado de forma perversa como uma cartilha inflexível.

O ensino não evoluiu ao ritmo da indústria?
Falam na Indústria 4.0, até já na Indústria 5.0, e o ensino de hoje, se nós formos ver gravuras da época da Grécia antiga, está mais ou menos parecido com o que era. Tinha um indivíduo, que era supostamente o mestre, que orava para um conjunto de pessoas que estavam a escutar. Aos dias de hoje, temos alunos que podem aprender, o self-learning acontece de diversas maneiras, vão à internet, têm vídeos. E nós, sistematicamente, estamos a dar aulas de forma expositiva a um conjunto de 30, 40, 60 pessoas, como davam na Grécia antiga. Sabendo que cada indivíduo tem necessidades especiais e que, acho eu, provavelmente até podem ter currículos especiais, únicos. Pelo mundo, há uma tendência para cada um desenhar o seu perfil académico, o perfil daquilo que quer aprender. Eu posso ser uma pessoa das ciências e querer ter aulas de filosofia. Mas isso é impossível de fazer, porque supõe que haja um acompanhamento mais próximo dos alunos e a nossa realidade e mindset dos professores e instituições não é permeável a abordagens progressistas.

Há professores suficientes para garantir essa proximidade?
O acompanhamento mais próximo dos alunos é difícil de ter, porque não há professores que cheguem. Mas não há professores que cheguem porque se dedicam a tentar ensinar aos alunos aquilo que não n

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