Entrevista

Vitorino: “A cultura é uma espécie de pudim flã da política”

16 set 2021 11:01

O cantor acusa os poderes de recorrerem à cultura quando precisam dela, sem a levarem a sério. E elogia a resiliência e resistência do povo da Marinha Grande, onde regressou há dias (foto de Ricardo Graça)

Vitorino, no Teatro Stephens, horas antes do concerto da última sexta-feira
Ricardo Graça

Como é que está a viver este período de pandemia, depois de lançar um disco novo, no ano passado, que praticamente coincidiu com o primeiro confinamento em Portugal?
Não é fácil, porque as condições não são favoráveis e os promotores têm dificuldade em contratar-nos. Se bem que há um grupo de intervenientes no palco, de cantores, autores, que pertence a determinadas empresas promotoras, são três, que tiveram os seus artistas sempre em actividade. Há aspectos de privilégio, enfim, dos contratadores, que são normalmente o Estado e as câmaras municipais, portanto, também é o Estado. São os grandes contratadores. E há três promotores, que são gigantes, que tratam muito bem os seus artistas. Acho isso maravilhoso, mas não pertenço a nenhum. Nem quero. Sou mais lança livre, free lancer.

Açambarcam as poucas datas que existem?
Não, não, não. Estão muito bem colocados junto de quem contrata. Estarão muito bem colocados junto do Ministério da Cultura e junto, sobretudo, das grandes câmaras de Portugal, que têm sempre um trabalho cultural forte, o que acho óptimo. Deviam ter cada vez mais. Agora que estamos num tempo de eleições, a actividade é muita. Eu tenho muitíssima. Devia haver eleições todos os anos, era bom para a democracia, funcionava melhor.

E a cultura também?
A cultura é uma espécie de um pudim flã da política, não é levada a sério em Portugal. Não tem um C grande, é uma coisa a que recorrem os poderes quando precisam dela. Não a veneram nem a tratam como se fosse uma coisa muito importante. Que é, muito mais do que eles imaginam. Falando da música: se não houver meia-hora de música nas rádios e nas televisões num dia, a população entra em pânico.

Custa-lhe o distanciamento físico ou está mais caseiro e menos boémio?
A boémia é uma coisa da juventude. À medida que os anos passam, a boémia é menos praticável porque é preciso saúde para ela. Muita saúde. De resto, não se podia sair à noite, estes tempos fecharam muito o convívio. Mas gosto muito de conviver e continuo e consigo. Quase sempre envolve um bom vinho.

Este conteúdo é exclusivo para assinantes

Sabia que pode ser assinante do JORNAL DE LEIRIA por 5 cêntimos por dia?

Não perca a oportunidade de ter nas suas mãos e sem restrições o retrato diário do que se passa em Leiria. Junte-se a nós e dê o seu apoio ao jornalismo de referência do Jornal de Leiria. Torne-se nosso assinante.

Já é assinante? Inicie aqui
ASSINE JÁ