Entrevista

Paulo Lucas: “Precisamos de investir na floresta o volume de dinheiro usado para salvar bancos falidos”

26 mar 2023 14:30

O dirigente da associação Zero defende que é necessário um pacto de regime para a floresta. Avisa ainda que a criação de grandes centrais solares vai “desfigurar a paisagem”.

Maria Anabela Silva

Assinalou-se, na terça-feira, o Dia Internacional da Floresta. Quais são, neste momento, os principais ataques à floresta?
Estamos hoje a assistir ao corte de floresta para produção de energia, com a instalação de mega centrais fotovoltaicas. É uma situação muito grave. Se é verdade que o País precisa de energia limpa, também é verdade que tem défice de matéria-prima florestal, em consequência dos incêndios, que faz perigar a fileira do pinho. Há depois o eterno problema dos incêndios, da gestão da floresta e do cadastro. Temos mais de 10 mil incêndios por ano. Os dados indicam que o uso negligente do fogo está na origem da maior parte dessas ignições. Claro que há incendiarismo, actos criminosos que devem ser investigados. Mas ainda temos mão pouco pesada em relação ao comportamento negligente no uso do fogo, nomeadamente na queima de sobrantes. Além do risco de incêndio, é uma má prática ambiental, porque estamos a deitar fora matéria orgânica e nutrientes necessários para a compostagem dos resíduos urbanos. Temos de reduzir drasticamente o número de incêndios.

Essa redução implica gerir melhor a floresta.
Óbvio. Principalmente a norte do Tejo, onde a propriedade é muito pequena, temos de apostar em lógicas de gestão agrupada e colaborativa. Antes, a economia rural estava organizada num modelo de subsistência. As pessoas tinham várias parcelas distribuídas pelo território, numa lógica de não colocar os ovos todos no mesmo cesto. Tinham pinhais, áreas para cereais, horta e até mato. Esta economia rural desapareceu. Não podemos olhar para a floresta querendo que as pessoas regressem ao campo, mas temos de criar mecanismos para que as pessoas entreguem os seus terrenos a entidades colectivas de getão e que possam ser remuneradas por isso. Só que há vários entraves.

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