Entrevista

Mónica Sobreira: “Tratar as pessoas como tratamos a nossa família faz toda a diferença”

30 nov 2021 08:50

Directora da divisão digital engineering services da Critical Software fala dos principais desafios decorrentes da digitalização e da escassez de profissionais

"A transformação digital é inevitável"
Ricardo Graça
Raquel de Sousa Silva

O Plano de Recuperação e Resiliência prevê para a área da transição digital uma verba de 2.460 milhões de euros, dos quais 650 milhões para as empresas. Que resultados devem ser esperados da aplicação destes fundos?
Os resultados estão muito dependentes da forma como se vai conseguir agilizar o acesso a estes fundos e como se vai garantir que este dinheiro contribuirá para criar mais negócios, mais empresas e emprego. Quando penso no Horizonte 2020 e noutros programas, penso logo na carga burocrática associada à candidatura. O dinheiro só vem depois e quanto menor for a empresa, maior a necessidade de que ele chegue rapidamente. É muito importante facilitar e apoiar as empresas na candidatura e ter mecanismos que consigam, de forma equilibrada, antecipar o dinheiro. E, claro, garantir que ele está a ser canalizado na direcção certa, nas áreas mais estratégicas. As camadas mais jovens pensam mais no reinvestimento e em fazer crescer as organizações, contribuindo para a sociedade. Há ainda muito que fazer, mas não são processos que se façam de um dia para o outro.

Quais as principais mais-valias da digitalização para as empresas, sabendo-se que temos um tecido empresarial composto sobretudo por micro e pequenas empresas?
A transformação digital é inevitável, não só para aumentar a competitividade das empresas – ao digitalizarem os processos conseguirão fazer mais com menos recursos – mas também porque permite aumentar o mercado a que se tem acesso. Por outro lado, também para reter talento. As gerações mais jovens querem tudo o que esteja relacionado com a área digital. Já nasceram num ambiente completamente digital. Não lhes passa pela cabeça não estarem sempre 100% ligadas.

O tecido empresarial português apresenta um nível de digitalização baixo, médio ou elevado?
Depende daquilo com que compararmos. Em relação aos países nórdicos, é baixo. É muito elevado em comparação com os do hemisfério sul. Se pensarmos em países como França, Alemanha e Inglaterra, está um pouco abaixo em diversas áreas, mas noutras nem tanto. Mas há ainda muito a fazer.

A digitalização das empresas e da economia implica a existência de pessoas dotadas de literacia digital. Temos recursos humanos capacitados nesta área?
Há uma escassez muito grande, que se regista a uma escala global. E a pandemia veio acelerar este processo. Porque mesmo as gerações que valorizavam o contacto pessoal foram forçadas, e passaram a estar habituadas, a fazer as coisas de forma remota. Os recursos na área de IT [information technology] estão disponíveis a partir de qualquer lado. Se antes os profissionais eram procurados localmente, agora podemos ter os melhores disponíveis em qualquer ponto do mundo sem necessidade de deslocação. Isto está a acelerar a escassez de recursos, porque as zonas geográficas que antes estavam protegidas devido à barreira da distância deixaram de estar.

Está a crescer o fenómeno dos chamados nómadas digitais…
Veio acelerar grandemente esse cenário. Agora qualquer recurso está disponível em qualquer local. Se antes uma empresa contratava na sua zona geográfica, ou contratava fora mas pedia para a pessoa se deslocar, agora não. Podemos trabalhar em qualquer lado, e isto veio trazer alguma desigualdade em termos de competitividade. Ou seja, se o nível salarial num determinado país é baixo, uma empresa de um país onde ele é mais alto consegue apresentar propostas muito mais atractivas. Não consigo ainda entender os impactos económicos deste fenómeno na sua globalidade, mas vai criar assimetrias elevad

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