Entrevista

José Oliveira: “A Geometria Descritiva que ensinamos não serve para nada”

4 set 2025 08:00

Foi distinguido com o prémio de melhor professor do País e tem um olhar crítico sobre a educação. Defende currículos com aprendizagens mínimas estabelecidas

José Oliveira
Ricardo Graça

Venceu o prémio de melhor professor com o projecto Ver Para Aprender. Em que se baseia essa metodologia?
Ser escolhido entre mais de 170 candidaturas é um reconhecimento público e todos gostamos de ser reconhecidos no trabalho que fazemos. O projecto Ver para Aprender é a ponta do iceberg. Na Geometria Descritiva olho para os alunos individualmente e tento potenciar o valor de cada um, em vez de olhar para a turma como um todo. Depois, acredito que o processo de aprendizagem, especialmente nestas idades, faz-se pelo desenvolvimento intelectual. Mais importante do que aprender coisas propriamente ditas, é produzir desenvolvimento intelectual. Claro que há conhecimentos que temos de ter de raiz e que têm de ser sólidos. Por exemplo: perdeu-se um bocado a história de decorar a tabuada, o que torna muito mais difícil fazer cálculo mental. Infelizmente, a calculadora pode-se utilizar logo no 1.º ciclo e usa-se de forma sistemática no 2.º ciclo.

Discorda do uso da calculadora?
Completamente, sobretudo até ao 3.º ciclo, porque estou a usar uma ferramenta que substitui a minha actividade intelectual numa altura em que ela é fundamental. Usar a calculadora é como um professor de Educação Física dizer para os seus alunos utilizarem uma trotineta eléctrica para correr seis quilómetros. A primeira regra fundamental é compreender o que estou a fazer. Por vezes, decoram-se as regras e aplicam-se aos exercícios, mas não se percebe o porquê. Temos de ir sempre às raízes do conhecimento, porque eles têm tempo de adquirir os factos e hoje temos acesso a uma série de informação através do telemóvel. Temos é de saber escolhê-la e utilizá-la e é para isso que é preciso fazer o desenvolvimento intelectual e assentar o conhecimento na base da compreensão. Se eu ensino um procedimento para resolver um determinado tipo de problema que só existe no universo académico, isto só funciona dentro da escola.

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