Entrevista

Gonçalo Lopes, presidente de Câmara de Leiria: “Intervenção de fundo na Heróis de Angola demorará um mandato”

20 ago 2020 12:29

A completar um ano como presidente da Câmara de Leiria, assume que a pandemia vai obrigar a adiar muitos projectos e aponta o ambiente como a área onde o concelho mais tem de trabalhar

Gonçalo Lopes, presidente da Câmara de Leiria
Nuno Brites | IntouchStories
Maria Anabela Silva

Completa-se, no dia 26, um ano que assumiu a presidência da Câmara. Era algo com que sempre tinha sonhado, dado que entrou cedo na política?
Este foi um projecto que começou há 20 anos quando Raul Castro se candidatou pela primeira vez e que juntou bastantes independentes e muitos candidatos às Juntas, do qual faço parte desde a primeira hora. Neste momento, sentia-me preparado para receber a liderança da Câmara. Era algo que podia ou não concretizar-se, mas sabia que se acontecesse estava preparado. Foi um primeiro ano de mandato atípico, fruto da pandemia.
Que balanço faz?
O último ano divide-se em duas partes. Os primeiros meses foram de crescimento económico, dinamismo cultural, de avanço de projectos de grande dimensão e de confiança no futuro, interrompidos de forma abrupta. Sucederam-se seis meses de insegurança e de resposta prática e operacional à pandemia. A experiência que retiramos deste período é que quem conseguiu manter o seu dinamismo e capacidade de intervenção, com a rapidez necessária, evitou problemas. Foi essa filosofia que se imprimiu não só na Câmara, mas em muitos dos nossos parceiros que estiveram no terreno a combater o vírus, com a área da saúde à cabeça. A ligação com os lares foi fundamental para assegurar a protecção aos idosos e aos funcionários. Houve ainda o foco de mobilizar a comunidade para o cumprimento das regras emanadas pela Direcção- Geral da Saúde. Não temos tido problemas graves no concelho, mas não podemos deixar de estar atentos e em prevenção. Esta é a nova maneira de fazer política, resultante da Covid, que obrigou os autarcas a adaptar as suas agendas e prioridades.

Em que é que a pandemia vai mudar a estratégia e as prioridades do Município?
Vamos ter de adiar os grandes projectos. O próximo ano será de recuperação económica e de apoio às famílias de modo a evitarmos fenómenos de exclusão social e de pobreza. Enquanto não vier o dinheiro da Europa, as Câmaras terão um papel muito importante a desempenhar. Será um final de mandato muito associado às questões sociais e ao relançamento da economia, num cenário de redução de receitas autárquicas.

Qual a estimativa de quebra das receitas municipais?
O orçamento do próximo ano terá uma regressão da receita ao nível da crise de 2011, com uma redução na ordem dos 20 a 30%. As receitas terão de ser cirurgicamente preparadas para acudir às necessidades de curto prazo e de emergência social.

Durante o período mais agudo de combate à pandemia, as autarquias tiveram um papel muito importante na resolução de problemas que iam surgindo. Qual a situação mais difícil que teve de gerir?
Um dos momentos críticos foi o de colocar os funcionários da Câmara em teletrabalho. Tínhamos de dar o exemplo. O fecho do Polis foi também difícil e marcante. Sabíamos que ia ser um sinal do nosso nível de preocupação, um pouco à semelhança da decisão do Presidente da República de ficar confinado, num momento em que muitas pessoas ainda não tinham a noção da gravidade da doença. O momento mais dramático aconteceu quando queríamos encontrar equipamento de protecção individual, para quem estava na linha da frente, e não podíamos ajudar porque não havia material. Foi notável a reacção do sector económico, com muitas empresas a fazerem a transição para as necessidades Covid, ajudando a resolver um problema e mantendo a produção.

Voltando ao balanço do mandato, uma das decisões que tomou foi a de parar o projecto do multiusos. Em que condições admite retomá-lo?
Tendo em conta o aumento do custo face ao previsto, parámos para tentar perceber o retorno económico e os custos de exploração e de funcionamento. Uma das marcas dos executivos liderados por Raul Castro é o das contas certas e a de não tomar decisões irreversíveis para as gerações futuras. A decisão foi prudente na altura e faz ainda mais sentido nos dias de hoje. Não sabemos como vai funcionar o sector dos espectáculos nos próximos anos, se ou quando voltaremos a ter espaços para grandes públicos ou quais as alterações que as dinâmicas culturais terão no pós-Covid.

Nos próximos anos, Leiria não terá, então, multiusos?
Os próximos tempos serão tempos Covid. É nisso que temos de estar focados. Depois, continuaremos a avaliar este projecto, que tem importantes valias. Leiria precisa de um equipamento que seja aglutinador, mobilizador, não só na área da cultura, mas também do desporto e dos eventos. O multiusos é um projecto que tem importância, mas na altura certa e depois de estudados os prós e os contras e de termos capacidade financeira para o executar, até resultante de apoios comunitários que venham.

Outro dos dossiers complicados que herdou é o da Avenida Heróis de Angola. Quando é que, realisticamente, os leirienses poderão esperar intervenção naquela avenida, prometida há anos?
É uma via estruturante para o funcionamento da cidade e que exige muito cuidado na intervenção a fazer, do ponto de vista técnico, mas também financeiro. O mínimo erro paralisará a cidade. Conscientes disso, nem Lemos Proença nem Isabel Damasceno nem os executivos dos últimos dez anos conseguiram encontrar soluções para executar a obra com a rapidez e a segurança exigidas. É necessário construir um colector que permita recolher todas as águas que, em dias de chuva, escorrem do castelo e do centro histórico até ao rio. Para o troço entre o estádio e a avenida tínhamos previstos três milhões de euros. O estudo geológico e a primeira proposta para esse colector apontaram para custos de oito milhões. Não podemos meter-nos numa obra dessas, que vai condicionar futuros orçamentos, sem ter a consciência de que é uma solução técnica capaz. Mas estamos a falar de uma obra estruturante na cidade. Nunca existirá o colapso [do colector]. A gestão desta intervenção está a ser controlada. Vamos contratar os melhores técnicos de estruturas, em termos geológicos e de soluções de saneamento, para nos ajudarem a encontrar solução mais adequada. A Heróis de Angola vai ter obras ainda este ano, que irão melhorar o ambiente urbano, tornando-o mais seguro para o peão e bicicletas, num momento em que é necessário distanciamento físico. A intervenção, orçada em 250 mil euros, contempla o aumento de passeios, alcatroamento, novo mobiliário urbano e sinalética e casas de banho públicas. É uma intervenção que irá tornar a avenida mais atractiva, enquanto se planeia a requalificação de fundo.

Isso significa que a intervenção de fundo demorará ainda alguns anos?
A intervenção de fundo na Heróis de Angola demorará um mandato. Fazer uma obra destas no coração da cidade trará muitos condicionamentos à sua vida social e empresarial. A decisão tem de ter um calendário ajustado. Colocar em cima de uma crise profunda, como a que estamos a atravessar, a interrupção de uma avenida, teria consequências gravíssimas. Já assumiu que não haverá cobertura da avenida, como propunha Raul Castro. A intervenção na

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