Entrevista

Fernando Elias: “Não podemos ter uma lógica de avaliação punitiva”

29 set 2022 15:48

Depois de quase 30 anos a liderar o Agrupamento de Escolas de Colmeias, o docente, aposentado, foi convidado pelo ministro para conselheiro nacional da educação

Fernando Elias
Ricardo Graça

Que marca deixou no Agrupamento de Escolas de Colmeias, onde esteve quase 30 anos?
Talvez seja a de ter procurado construir uma escola diferente, que fosse integradora e inovadora, inclusiva e transformadora, assente numa questão que é essencial: nada em educação se faz sozinho. Todo esse processo de construção ao longo dos anos teve o envolvimento das pessoas, numa proximidade e afecto. A escola é sempre um lugar de desafios e de compromissos e procurei desafios, mobilizando e motivando o empenhamento e o desempenho das pessoas. O principal desafio na construção de qualquer escola, e desta em particular, é procurar a melhor forma de aprender: colocar o aluno no centro das aprendizagens. E, sobretudo, colocar as aprendizagens no centro da vida da escola. Procurámos que o sucesso dos alunos fosse pelo seu potencial, pela sua singularidade e pelos seus talentos, nunca orientado para resultados e muito menos por comparação com os outros. Outro grande desafio foi a ousadia. Na educaç ão é importante ser pluralista na linha de pensamento e da acção, mas é muito importante conseguirmos caminhar fora da caixa, sempre de uma forma sustentada e reflectida, procurando encontrar o que é mais essencial. Não podemos ser muito seguidistas. Claro que cumprimos com aquilo que são as orientações superiores e os quadros legislativos. Mas há sempre margens, quer da autonomia quer da dita ousadia, para fazermos prospectivamente algo diferente. A escola só faz sentido se acrescentar valor. Neste caso concreto, foi acrescentar valor na dimensão pedagógica e organizacional, de forma a que pudéssemos ter melhor desenvolvimento integral dos alunos, ajustando o sucesso às suas características, mas também garantindo a satisfação dos agentes educativos. Ao longo dos anos procurei atribuir poder aos outros, dando espaço para que pudessem ser, agir, dar asas à sua arte, empenharem-se com os alunos e nunca desistirem deles. É essencial reconhecer o seu trabalho, competência e empenho, dando- lhe espaço para crescer profissionalmente e sentirem-se parte do projecto. Também tivemos sempre uma preocupação com a equidade, procurando ser uma escola inclusiva. Nunca recusámos um aluno. A escola começou agora a perceber que tinha de sair para fora dos muros e nós já percebemos isso há muito tempo através do relacionamento com vários parceiros.

“Uma das prioridades foi colocar o aluno no centro das aprendizagens”. Já estava muito mais à frente para a sua época?
Sim, não se fazia. A nossa escola e a forma como ela foi sendo gerida, numa acção transformacional nas pessoas, em particular nos alunos, foi construída num processo de reflexão. Mas tivemos ousadia. Todos os projectos que o ministério ou outras estruturas abriam, aderíamos sempre. Desde a primeira hora sentimos que o aluno tinha de estar no centro das aprendizagens. Tivemos sempre dois pressupostos que hoje têm uma validade inquestionável, que é a importância da aprendizagem precoce entre os zero e os seis anos e, sobretudo, a consolidação da formação, quer cívica quer afectivo-emocional quer até cognitiva- relacional, dos alunos no 1.º ciclo. A infra-estrutura do bom sucesso escolar à la longue resulta muito da forma como se trabalham estes dois primeiros níveis de ensino. A forma como o currículo estava e está organizado permite muita metodologia de projecto e relacionamento de saberes. Permite trabalhar de forma apelativa, dimensionar a curiosidade dos alunos e envolvê-los, correlacionando vários saberes úteis, práticos e funcionais.

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