Entrevista

Entrevista | Joaquim Cândido: "A unidade de diálise da Benedita não abre por questões políticas”

8 abr 2019 00:00

Director clínico da Policlínica da Benedita critica o facto de o Estado tratar apenas 7% dos doentes hemodialisados.

Maria Anabela Silva

Inaugurado em Junho de 2018, o Centro de Diálise da Benedita continua fechado por falta de convenção com o Ministério da Saúde. O que está a emperrar o processo?
Nada, a não ser o Ministério e a ministra da Saúde. E fazem-no sem argumentos. O processo tem mais de dez anos. O licenciamento chegou em Maio 2018 e, desde então, a unidade está preparada para receber doentes. Temos pareceres positivos da ARS [Administração Região de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo ] e da ACSS [Administração Central dos Sistemas de Saúde]. A parte técnica está resolvida. Falta a questão política. Ou seja, a decisão da ministra. A ARS fez um estudo que fundamenta as necessidades da criação desta unidade. Já antes, a Entidade Reguladora da Saúde tinha apontado essa lacuna ao concelho de Alcobaça.

Leia aqui a segunda parte desta entrevista

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Estamos, então, no plano da política?
Exacto. Esta unidade de diálise não abre por questões políticas. Em 2016, abriram quatro unidades, quando a actual ministra era presidente da ACSS. O argumento de que faltava regulamentar a legislação foi ultrapassada pela questão da proximidade e da necessidade de aproximar os cuidados aos doentes, o mesmo que temos agora e que não é reconhecido.

Como explica a um doente da Benedita que, tendo uma unidade ao lado de casa, tenha de percorrer dezenas de quilómetros para fazer diálise?
Não há explicação. Muito do debate em torno do SNS está centrado na questão dos custos e da necessidade de mais profissionais e investimento. Aqui, temos uma questão de natureza diferente. Um doente desta região que vá a Leiria fazer diálise chega a demorar oito horas, entre viagens e tratamento. Isto é uma brutalidade. Há depois o excesso de doentes das unidades. Foram validadas para 150 doentes, mas estão a receber 250 ou 270. Há ainda os custos do transporte, pagos pelo Ministério. Isto não tem a ver com o problema de dinheiro. O Ministério da Saúde, quando toma uma opção destas, está a tomar uma opção política. O Estado trata apenas 7% dos doentes hemodialisados, sendo que os restantes 92% são tratados em unidades de hemodiálise pertencentes a quatro multinacionais. Por coincidência, quatro das unidades que abriram em 2016 pertencem a esses grupos.