Entrevista

Domingos Fernandes: “Temos currículos enciclopédicos, que não fazem sentido”

8 mar 2024 11:04

O presidente do Conselho Nacional de Educação, defende uma maior diversidade de oferta no ensino secundário com uma qualidade de topo

Domingos Fernandes
Ricardo Graça

Uma das principais conclusões do recente relatório Estado da Educação 2022 é a extinção do 2.º ciclo.
Decidimos escolher cinco áreas temáticas que consideramos que são desafios para o desenvolvimento do sistema educativo e melhoria da sua qualidade. Questiona-se a existência do 2.º ciclo do ensino básico, que é uma singularidade no contexto de sistemas educativos europeus. As razões que levaram à sua criação, não existem neste momento. É um ciclo entre ciclos, cujo problema principal será os alunos no 1.º ciclo estarem habituados a um professor titular da turma e depois entrarem num mundo onde aparecem 12 professores. Isto não tem explicação e não é positivo sob o ponto de vista das aprendizagens. É uma transição muito exagerada que levanta uma série de problemas. Muitos académicos e até políticos têm referido a falta de sentido para este 2.º ciclo. Eu, pessoalmente, já defendi na Assembleia da República e junto do Governo a necessidade de começarmos a ter uma educação dos 0 aos 12 anos, que nos possa ajudar a gerir de uma forma mais integrada, com um fio condutor lógico e consistente. Claro que se teria de pensar como é que organizaríamos o actual 3.º ciclo. Na esmagadora maioria dos países da Europa, e mesmo fora da Europa, há um primeiro momento de escolaridade, que pode ir até aos 12 ou 14 anos, em que há uma certa integração e unidade. Depois têm aquilo que se chama o lower secondary e o upper secondary, que são os 10.º, 11.º e 12.º anos. A mim não me chocaria rigorosamente nada que tivéssemos um primeiro momento, dos 0 aos 12 anos, depois um segundo momento, dos 13 aos 15, que seria o lower secondary, e a seguir um secundário superior, tal como ele existe agora.

Manter-se-ia a monodocência no primeiro momento?
Julgo que não. Até sou apologista que se poderia acabar com a monodocência. Não é criar grandes especializações, mas termos uma situação que fosse evoluindo para que a tal transição não fosse também complicada. Mas, nunca se justificam 12 professores. Criámos uma situação em Portugal, que é bastante única no mundo. Em rigor, no 2.º ciclo, deveria haver cinco ou seis professores, porque estão divididos em grupos de docência.

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