Opinião

Um problema difícil

16 jun 2017 00:00

Um estudo divulgado esta semana revela dados relativos ao uso de telemóvel por partes dos jovens e adolescentes portugueses que não podem deixar de merecer uma cuidada reflexão.

Numa leitura rápida do estudo salta à vista a massificação da utilização desse meio de comunicação - apenas 0,4% dos jovens entre os 15 e os 18 anos não têm telemóvel –, algo que não surpreenderá muita gente e que não levantará muitas questões.

No entanto, outros dados revelados dão mais que pensar, designadamente a idade precoce a partir da qual a maioria começa a ter telemóvel – 10 anos -, o uso que fazem dele, sendo que alguns jovens chegam a enviar 200 SMS por dia, e ainda a elevada percentagem - 89% - que utiliza estes aparelhos para aceder à internet.

Ou seja, o que se pode depreender deste estudo, que realizou cerca de 8.600 inquéritos ao longo de cinco anos, é que a maioria dos jovens portugueses, independentemente da idade, utiliza o telemóvel sem grandes restrições ou controlo, tendo acesso a tudo o que a internet disponibiliza que, como é sabido, é mesmo tudo…

A questão da segurança é apenas um dos problemas que se colocam quando adolescentes e jovens sem maturidade têm à sua disposição um meio como este, sendo óbvios os riscos de um “terreno” onde a identidade de quem o frequenta e os objectivos com que o faz são, frequentemente, uma incógnita, sendo já muitos os casos conhecidos que acabaram em tragédia.

Se a maturidade da maioria dos jovens e adolescentes não será suficiente para se darem conta dos riscos de segurança no uso da internet, também não será a mais adequada para ter disponível à distância de um clique a quantidade e tipo de informação, de imagens e de vídeos que esta oferece, muita da qual é perturbadora e chocante até para adultos.

Além destas questões, merece ainda reflexão a quantidade de mensagens (sejam SMS ou através das redes sociais) que os jovens trocam entre si, muitas vezes estando no mesmo espaço ou a poucos metros de distância.

É uma forma de comunicar mais confortável e, geralmente, algo superficial, que poderá levar a que não se desenvolvam convenientemente as competências sociais, aspecto determinante para a auto-estima futura e cada vez mais valorizado no mercado de trabalho.

Muitos pais têm consciência de tudo isto e tentam fazer diferente com os seus filhos, mas a pressão para se juntarem ao rebanho é cada vez maior, desde logo pelo que os dados acima referidos mostram: todos os outros têm.

Ou seja, dizer “não” poderá ser o mais correcto por um lado, mas poderá também trazer problemas de outra natureza, nomeadamente ao nível do relacionamento dos filhos com os colegas e amigos.

A exclusão, o apontar do dedo e até o gozo podem surgir, sabendo-se que a crueldade não é nestas idades muito bem medida.

Um problema difícil, portanto… Um problema que parece ter vindo para ficar, mas que exigirá a maior reflexão para se encontrarem formas de o minorar.

* Director do JORNAL DE LEIRIA