Sociedade

Um jardim moderno que respeita a memória

23 mar 2017 00:00

Parece que é desta. O tão desejado Jardim da Almoinha Grande vai finalmente sair do papel. A Câmara de Leiria apresentou o projecto, que deverá estar concluído dentro de um ano

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Concertos ao ar livre, um 'calçadão', zonas de exposição e muito espaço verde para lazer são algumas das possibilidades que o novo Jardim da Almoinha Grande oferece, numa recriação poética da paisagem da região de Leiria.

Não é o Central Park que uma petição online pedia, mas trata-se de um espaço verde de quatro hectares, naturalista e contemporâneo. O jardim evoca as encostas da serra d´Aire e as lezírias do vale do Lis.

“É um projecto dinâmico que define uma base que se irá desenvolver ao longo dos anos, embora sempre com um acompanhamento para garantir a qualidade e os princípios do projecto”, adianta João Marques da Cruz, um dos arquitectos paisagistas que estiveram na concepção do espaço verde.

O Município de Leiria aprovou o projecto, na última reunião de executivo, anunciando um investimento superior a 2,2 milhões de euros. O vereador Ricardo Santos explicou que o jardim prevê a plantação de 547 novas árvores, de quase 1.900 novos arbustos, um lago e a continuidade de percursos pedestres ao longo do rio Lis, estando garantidas as acessibilidades a pessoas com mobilidade reduzida ou condicionada.

Uma das mais-valias é a "naturalização das linhas de água existentes", nomeadamente da Ribeira do Amparo, e a "utilização de materiais e espécies vegetais autóctones". A história deste futuro jardim começou a desenhar-se em 1995, tendo o projecto ficado concluídoum ano depois. “A ideia iniciou-se com Jorge Estrela [historiador já falecido], ainda no âmbito do Plano de Pormenor da Almoinha Grande. Ele achou que deveria fazer-se uma recriação da paisagem da nossa região. Com a importação e a produção industrial de espécies exógenas, chegou-se a um ponto que já não temos memória de como era a nossa paisagem”, revela o arquitecto coordenador do projecto, Rui Ribeiro.

Segundo o especialista, “um jardim é sempre uma encenação”, pelo que projectar um espaço verde é “criar uma cenografia da natureza na cidade”. Por isso, lembra que “os autores dos primeiros projectos de jardins muito conhecidos são pintores, em conjunto com botânicos”, que pintavam os futuros jardins, que acabavam por não conhecer.

A explicação é simples: um jardim não é como construir uma casa, em que tudo é projectado e depois edificado. Um espaço verde é dinâmico, ou não contemplasse seres vivos. João Marques da Cruz acrescenta que um jardim é “um palco que serve para determinadas actividades urbanas”, referindo que o que dá sentido ao espaço é a “vida urbana que se possa trazer, desde que compatível com o uso de um jardim”.

O parque verde permitirá às pessoas “sair da cidade sem sair da cidade, desligar do burburinho urbano”, por isso o arquitecto paisagista defende que não haja objectos nem mensagens explícitas que dispersem as pessoas do seu sossego.

“Tem de ser um espaço de natureza dentro da cidade, onde se possa sentir em contacto pleno com a natureza”, frisa. Segundo este arquitecto, a “natureza dentro da cidade funciona ainda como regulador do ambiente, tornando-a mais funcional e confortável”, por isso dentro das cidades deve-se assegurar uma estrutura verde contínua constituída por ruas arborizadas, jardins e corredores verdes com percursos pedonais, como é o caso do Polis que é um “excelente exemplo.”

Um ano para construir e 20 para ganhar forma Admitindo que se trata de um projecto de “difícil execução para os projectistas, porque precisa de um acompanhamento muito cuidado”, Rui Ribeiro revela que o jardim demorará um ano a ser executado. “O ideal seria começar em Julho a fazer todos os movimentos de terra e toda a parte de infra-estruturas,
para na próxima Primavera, entre Março e Abril de 2018, poder começar o plano de plantações”.

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