Opinião

Quem não deve não teme

17 dez 2015 00:00

Passos & Portas, tal como muitos dos seus peões de brega, foram inqualificáveis aquando da apresentação do actual governo na AR. Ao tratarem o PM A. Costa por “primeiro ministro vírgula não eleito” ou de expressões ainda mais malcriadas...

A 27 de Novembro, um dia após o parto difícil deste governo de salvação nacional, Ferreira Fernandes escrevia na sua habitual crónica do DN: “Ontem, Cavaco tomou posse da sua ida embora (…) A política às vezes é como a natureza, que gosta de simetrias: a dois meses sem governo, vão seguir-se dois meses sem Presidente” E acrescentava mais à frente: “ O tom intratável [do PR] não foi bonito”. Eu não gosto de comentar indelicadezas e vou passar á frente, porque também não gosto de bater em moribundos. Nunca a função presidencial esteve tão mal representada, nem mesmo no inefável tempo do Estado Novo. Por isso, um amigo meu diz, jocosamente: “volta Tomás que estás perdoado”.

Mas vamos a coisas que não podem deixar de ser ditas, em nome da moral e da boa educação. Passos & Portas, tal como muitos dos seus peões de brega, foram inqualificáveis aquando da apresentação do actual governo na AR. Ao tratarem o PM A. Costa por “primeiro ministro vírgula não eleito” ou de expressões ainda mais malcriadas, mostraram a sua falta de “verniz”, que já antes dificilmente ocultavam, e baixaram ao nível dessa cloaca que é o C. da Manhã quando noticiava em primeira página que Costa chamava para o governo uma cega, um cigano e uma preta. Nunca a política de Passos, Portas & C.ª desceu tão baixo como nestes dias de indignidade da AR! Por muito menos do que isto vi, há anos, Jaime Gama tirar a palavra a um novel e inexperiente deputado por não utilizar a expressão formal de se dirigir à Assembleia. Desta vez Ferro Rodrigues, que tem fama de não ter papas na língua, falhou ao não silenciar os malcriados a que me referi. Continuam a afirmar que o actual governo é constitucional (só faltava que o não fosse!) mas continuam a clamar aos quatro ventosque é ilegítimo, uma palavra nova no vocabulário político. Eu gostava de saber onde está a falta de legitimidade de um governo que tem o apoio de uma maioria absoluta de deputados. Ilegítimo era o governo Passos&Portas que o inquilino de Belém, de saída, quis impor, mas que foi muito legitimamente apeado. Então o milhão de votos expressos nos partidos que acabaram por viabilizar o governo de Costa não lhes dá legitimidade para, ainda que indirectamente, participarem na governação do país?

Esta crónica é escrita ao sabor da passagem do tempo, inexoravelmente rápida, e também do espaço atribuído, incontornavelmente curto. Mas não termino sem anotar que me intriga a reacção da camarilha que nos (des)governou nestes últimos 4 anos, ao perder o poder. Muito nervosos, muito inquietos, muito trauliteiros. De que têm medo, afinal? Costuma dizer-se que quem não deve não teme e eles estão de facto acossados. A seu tempo se irá sabendo porquê, mas começam a aparecer indícios, preocupantes, desse mal-estar. São os cofres cheios que afinal estão vazios, o défice que não estava a ser cumprido, as devoluções de impostos e sobretaxas que eram só para fins eleitorais, as negociatas leoninas das concessões/privatizações, com tais rabos de fora, que não auguram nada de bom para os contribuintes. Disso iremos falando a seu tempo

PS. Este é o meu último contacto com os meus leitores até ao Natal/Ano novo. Por isso desejo a todos, bem como àqueles que fazem o JL chegar até nós, votos de feliz Natal e um próspero Novo Ano de 2016.

*Economista