Opinião

Poupar agora para gastar a dobrar no futuro

25 out 2018 00:00

O que é surpreendente, é que perante todo este conhecimento se continue a olhar para o problema como se ele não existisse, com o Estado a dar um fraco sinal nesta matéria.

Não é novidade para ninguém que há em Portugal um grave problema de obesidade, com boa parte da população, muito dela jovem, a apresentar excesso de peso. Também não há segredo nenhum sobre as consequências que daí podem advir, sendo várias as doenças que lhe estão associadas, da diabetes à hipertensão e outros problemas cardio-vasculares, passando pelo sistema ósseo-articular e, mesmo, pelo foro psíquico, onde uma reduzida auto-estima é inimiga da estabilidade emocional.

O que é surpreendente, é que perante todo este conhecimento se continue a olhar para o problema como se ele não existisse, com o Estado a dar um fraco sinal nesta matéria.

É verdade que a origem primeira do problema está em casa, na forma como muitas famílias se alimentam e nos hábitos que incutem aos mais novos, bastando passar à frente de qualquer escola para, através da oferta existente, perceber o que os jovens consomem.

No entanto, não deixa também de ser sintomático que quem nos tem governado, agora e no passado, não intervenha na proporção do problema, deixando que este se vá arrastando e até avolumando.

Exemplo disso mesmo, é a realidade do Agrupamento de Centros de Saúde do Pinhal Litoral, que apenas tem um nutricionista, a meio tempo, para uma área de cinco concelhos, com cerca de 267 mil utentes, contrariando claramente o rácio de um especialista por 20 mil pessoas indicado pela Ordem dos Nutricionistas.

Na base deste défice estarão, como habitualmente, questões orçamentais, algo a que os portugueses estão mais do que habituados, não apenas na saúde, mas em praticamente todas as áreas da administração pública.

No entanto, sabendo-se, como se sabe, que é muito menos dispendioso prevenir do que tratar, e que o custo de debelar problemas de saúde aumenta na proporção da sua gravidade, parece evidente que, também pela questão económica, este caminho não é o mais acertado, como de resto acontece na generalidade dos cuidados de saúde primários.

O que não se gastar agora a reforçar as equipas dos centros de saúde, na área da nutrição, mas não só, será pago a multiplicar num futuro próximo, sem contar os impactos que uma sociedade mais doente terá na actividade económica, com expectáveis aumentos de abstencionismo e menor produtividade. É o chamado pensamento de curto prazo, que já vigora há muitos anos.

Nada de novo, portanto, pois os alertas e as reivindicações para maior investimento nos cuidados primários têm sido mais do que muitos, principalmente quando os hospitais entopem com “falsas” urgências, dificultando o trabalho dos seus profissionais e penalizando quem realmente necessita de cuidados especializados. 

*director