Opinião

Podíamos não nos sentir a sofrer

25 jun 2017 00:00

Na minha juventude li alguns poemas que se colaram a mim e nunca mais me abandonaram. “O quê? Valho mais que uma Flor” de Alberto Caeiro é um deles.

Recordo alguns versos

O quê? Valho mais que uma flor /Porque ela não sabe que tem cor e eu sei,/ Porque ela não sabe que tem perfume e eu sei,/Porque ela não tem consciência de mim e eu tenho consciência dela?/ Mas o que tem uma coisa com a outra/Para que seja superior ou inferior a ela?/Sim tenho consciência da planta e ela não a tem de mim./Mas se a forma da consciência é ter consciência, que há nisso?/A planta, se falasse, podia dizer-me: E o teu perfume?/Podia dizer-me:Tu tens consciência porque ter consciência é uma qualidade humana/E só não tenho uma porque sou flor senão seria homem./Tenho perfume e tu não tens, porque sou flor...(…)”.

Cresci, portanto, a sentir-me como uma espécie de fera franciscana: sou animal, quando tenho fome como bichos e plantas, mas evito matar qualquer um deles, sinto-os como irmãos.

Custa-me muito arrancar uma planta ou cortar uma flor e confesso que com algumas delas até converso. Refiro esta minha caraterística porque a morte que a tantos de nós a Natureza incendiada agora provocou me fez recordar que para ela, tal como para o poeta neste poema, nenhuma pessoa vale mais que uma formiguita ou um minúsculo vegetal.

* Professora

Texto escrito de acordo com a nova ortografia

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