Opinião

Poderíamos ser nós

8 nov 2018 00:00

Numa altura em que, finalmente, o Governo se prepara para legislar sobre o papel do cuidador, seria igualmente importante que se estudassem medidas e mecanismos de maior apoio para que as associações existentes.

Nesta edição o Jornal de Leiria vai ao encontro de duas importantes associações de intervenção social, a Adeser II, da Marinha Grande, e Os Malmequeres, de Leiria, esta última a comemorar três décadas de existência.

Quer uma quer outra são excelentes exemplos do papel determinante do associativismo no apoio às populações mais frágeis, nos exemplos em causa junto de crianças e jovens com algum tipo de deficiência intelectual, mas também, no caso da Adser II, com pessoas vítimas de violência doméstica.

Apesar dos apoios que muitas destas associações recebem da Segurança Social e de alguns donativos de particulares e empresas, a maioria enfrenta normalmente grandes dificuldades económicas que lhes condicionam o tipo de intervenção que conseguem ter, sendo visível que há muitas famílias a necessitar de ajuda para as quais não há resposta.

Numa altura em que, finalmente, o Governo se prepara para legislar sobre o papel do cuidador, seria igualmente importante que se estudassem medidas e mecanismos de maior apoio para que as associações existentes, e outras que pudessem vir a ser criadas, fossem capazes de dar resposta a um maior número de pessoas, com toda a qualidade e conforto a que todos os seres humanos deviam ter direito.

Só quem nunca contactou directamente com famílias que têm no seu agregado algum elemento com deficiência inibidora de autonomia é que não concordará com medidas que permitam aos seus familiares terem uma vida ‘normal’ e com a importância de apoio especializado para quem dele necessita, não sendo hoje aceitável que se dê alguém como perdido.

Felizmente, como a Adser II e Os Malmequeres há muitas outras associações que, quase sempre longe dos holofotes, vão dando o seu melhor por uma das causas mais nobres da nossa existência, que é a preocupação e o fazer alguma coisa pelo Outro.

São associações, muitas vezes suportadas por voluntariado, que mereceriam mais visibilidade e reconhecimento, pois sem elas a vida seria incalculavelmente mais difícil para inúmeras pessoas, acabando por funcionar como uma espécie de rede que impede dramas sociais de maior gravidade, de que foi bom exemplo o período de crise que atirou para o desemprego centenas de milhares de pessoas.

Ou seja, todos nós, e não só o Estado, deveríamos parar um pouco e olhar com olhos de ver para esses projectos, pois haverá, com certeza, alguma forma de se poder contribuir para que se mantenham sustentáveis, aumentem a sua capacidade e tenham melhores condições. Pelo Outro, que poderíamos ser nós… 

*director