Sociedade

Pedro Machado: “É indiscutível que Fátima é uma marca que ajuda a projectar Portugal”

11 ago 2018 00:00

Presidente do Turismo do Centro diz-se "absolutamente convencido" que abertura de Monte Real será vantagem competitiva

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Raquel de Sousa Silva

Acaba de tomar posse para mais um mandato à frente do Turismo Centro de Portugal. Um dos objectivos é “reforçar e posicionar a notoriedade do Centro de Portugal como marca de referência do turismo de diversidade”. Como é que isto poderá ser alcançado?
Este ciclo que agora iniciamos(2018-2023) tem um legado, que corresponde a cinco anos em que fizemos o rebranding da marca Centro de Portugal. Foi aliás em Leiria que foi aprovado o plano de marketing para esse efeito, em 2014. De então até agora, a evolução foi bastante positiva. Crescemos no número de hóspedes e de dormidas, crescemos em receitas, atingimos a fasquia mítica dos seis milhões de dormidas na região Centro, no ano passado. Por isso, a primeira nota que se exige no novo ciclo é consolidar este crescimento, ao nível do que é o posicionamento no mercado interno, daí querermos que esta seja a região de referência para o turismo da diversidade. Segundo, queremos consolidar o crescimento no que diz respeito ao número de hóspedes e ao número de dormidas. Crescemos acima dos 14% em 2017. Este ano, entre Janeiro e Maio, últimos dados que temos, estamos a crescer na ordem dos 10%. Terceiro, procuramos também consolidar o crescimento em receitas, área em que ultrapassámos a fasquia mítica dos 300 milhões de euros. A nossa maior ambição é que esta fasquia não baixe.

O que vai ser feito para isso?
Precisamos de fazer três coisas. Primeira, reforçar a promoção da marca Centro de Portugal, por um lado com a consolidação no mercado nacional, por outro continuando o trabalho de internacionalização, nomeadamente abrindo para mercados emergentes. Tivemos durante muitos anos França, Espanha e Itália como os grandes mercados tradicionais, neste momento temos de contar com o Brasil, com os Estados Unidos e, sobretudo, por força do turismo religioso na região de Leiria, com muitos mercados emissores, onde se contam os chineses, sul-coreanos, filipinos, vietnamitas, tailandeses. Segundo ponto: diversificar os produtos turísticos. Durante muitos anos estivemos amarrados aos produtos convencionais, como sol e praia, gastronomia, património, cultura, termas, saúde e bem-estar, golfe. Seguramente que todos eles continuam a ser importantes, mas há produtos que abrem novas perspectivas para esses novos mercados. Falamos claramente no turismo religioso. Enquanto produto turístico autónomo é muito recente, desde 2014. Isso abriu-nos a porta para a Ásia, América do Sul, Estados Unidos. Seja o mariano (Fátima), seja o turismo judaico. O turismo religioso não se esgota no católico, nem em Fátima.

Que outros novos produtos podem ser potenciados?
Os associados ao mar: surf, kitesurf, windsurf e outros desportos de deslize. Isto por força de três características únicas, que fazem de Portugal e da região Centro um destino único no mundo: temos a onda tubular mais comprida na Europa, na Figueira da Foz; temos a maior onda do mundo, a onda canhão, na Nazaré; e temos supertubos em Peniche. Isto faz dos nossos 200 quilómetros de costa atlântica um dos maiores e melhores destinos do mundo para a prática de desportos de deslize. Também o turismo médico pode ser potenciado. É um upgrade do turismo de saúde e bem-estar, que está consagrado no Centro de Portugal.

Há um terceiro eixo a desenvolver para atingir o objectivo de reforçar a notoriedade do Centro…
É a captação de grandes eventos. Temos consciência de que precisamos de eventos de carácter nacional ou internacional que nos ajudem a posicionar na procura dos mercados emergentes mais distantes. Para isso temos já alguns eventos de referência, como o Sunset [RFM Somni] na Figueira da Foz, que é o maior da Europa; o Encontro das Famílias Católicas em Fátima, que é de âmbito mundial; e o Encontro Bea World, das empresas que produzem eventos a nível mundial; e o encontro de operadores turísticos da Holanda.

Outro dos objectivos para este mandato é que o Turismo do Centro seja interveniente activo na discussão do perfil e da utilização da exploração da floresta. Porquê?
Primeiro, porque a floresta é um activo. Quando promovemos e vendemos turismo de natureza temos imediatamente uma ligação ao activo disponível. Segundo, porque muita da nossa actividade turística está sediada em perímetro de floresta. Basta pensar no turismo em espaço rural, nas empresas de animação turística, no conjunto de serviços associados ao desporto ao ar livre ou ao turismo activo. Temos a floresta sempre como ponto de chegada. Por isso é muito importante para nós termos boa floresta, ordenada, mas, mais do que isso, termos segurança, um dos factores críticos para a actividade turística. Em 2017 tivemos duas ameaças muito fortes ao destino. Por um lado a percepção da segurança e, por outro, a perda do produto. Se ardeu, é difícil motivar as pessoas. Temos experiência, temos agentes económicos dentro destes perímetros, empresas que continuam sediadas exactamente onde aconteceram os incêndios, que têm opinião sobre como devia ser o modelo de planeamento, o modelo de reflorestação, para que a actividade turística possa ser feita com segurança.

Portugal perdeu, no último ano, cerca de dois milhões de visitantes devido à saturação das actuais infra-estruturas aeroportuárias. A abertura de Monte Real ao tráfego civil, questão que voltou recentemente à ordem do dia, poderia ser uma solução?
[A falta de condições das infra-estruturas] É uma questão recorrente, que de ano para ano tem vindo a significar perdas. A estimativa que temos é que perdemos cerca de dois milhões de passageiros. Não sabemos se são todos turistas, mas seguramente que em dois milhões haveria muitos. O que é que o aeroporto de Monte Real poderia significar? Ponto um: é uma porta aberta para a chegada de passageiros e, por esta via, de turistas. O perímetro de qualquer aeroporto europeu que tenha um serviço com duas horas de viagem para esse destino tem sempre uma vantagem competitiva. Segundo, temos a certeza que existe matéria-prima e fluxo na região Centro, por força da influência do turismo religioso, capaz de justificar os tais 600 mil passageiros por ano, apontados pela consultora Roland Berger no forum realizado em Leiria, e que 24 milhões de euros [de investimento] seriam suficientes. Em suma, ganhamos um bom serviço, abrimos uma porta fortíssima para entrada de passageiros e de mercadorias e poupamos dinheiro ao País.

Nomeadamente face ao que seria preciso para construir um novo aeroporto…
Um investimento na ordem dos 24 milhões de euros, comparado com aquilo que se fala, por exemplo, para o Montijo, na ordem dos dois mil milhões, é incomparavelmente menos esforço. Os aeroportos não têm apenas essa função imediata de poderem ser uma porta aberta. Depois geram sinergias, conexões, têm a capacidade de desenvolver à sua volta um conjunto significativo de empresas, de indústria, de serviços e, mais importante ainda, de fixar residentes. Em espiral, há tudo aquilo que o aeroporto pode significar para as indústrias de moldes e de vidros, para a actividade turística e para muitas outras. Percebeu-se no forum em Leiria, em Junho, que Monte Real tem condições físicas e técnicas para tornar possível a dupla função, sem chocar com os interesses da defesa nacional. Continuo absolutamente convencido que Monte Real seria uma vantagem muito competitiva, não apenas para Leiria mas para a região Centro e para o País. Existem manifestações de vontade de empresas privadas interessadas na exploração e também de empresas associadas à aviação comercial disponíveis para equacionar Monte Real logo que sejam criadas condições.

Fátima é uma das marcas mais valiosas da região Centro e de Portugal. Tem vindo a ser potenciada?
Fátima tem vindo a crescer de forma bastante consolidada. Se pensarmos nos workshops religiosos que fazemos anualmente, que em 2018 já incluiu uma parceria com o turismo judaico, o que levou os operadores também à Guarda, vemos que o interesse cumulativo por parte dos operadores internacionais é um caso de grande consolidação do crescimento. Os dados revelados pela reitoria [do Santuário] apontam para sete milhões de visitantes em 2016 e para nove milhões em 2017. É evidente que foi o Centenário das Aparições e a visita do Santo Padre, o que só por si representa, na prática, mais um milhão de visitantes, em média. Mas é hoje absolutamente indiscutível que Fátima é uma marca que em alguns casos ajuda a projectar Portugal. Em alguns casos está mais longe do que a marca Portugal, o que faz de Fátima uma marca muito importante da região Centro e do País.

Mais do que um produto, os turistas querem hoje comprar emoções, experiências…
A região Centro tem essa vantagem competitiva. Não é um destino monoproduto. Mas é uma vantagem que queremos aumentar. Para darmos aos turistas as tais experiências que diferenciem o Centro precisamos de continuar um trabalho sólido de qualificação dos nossos serviços e das nossas unidades. Não estamos à espera de captar grandes investimentos no que diz respeito a hotelaria, provavelmente o que hoje faz a diferenciação da região centro é a coexistência de muitas unidades de média e pequena dimensão, cuja capacidade de oferecer serviços diferentes é grande. Outro desafio é tornar único e icónico aquilo que acho que é o grande diamante do Centro de Portugal, e que está por lapidar: tudo aquilo que é manufacturado, como o queijo, os bilros, as iguarias. Isto vai ser o luxo dos próximos anos. O grande desafio que temos pela frente é fazer com que o silêncio, o tempo, seja um activo que a região Centro pode oferecer, porque vão ser o luxo do século XXV. Ter tempo para si próprio, ter silêncio, ter a capacidade de não fazer nada, de estar absolutamente tranquilo, de não ter de correr porque há fila para isto ou para aquilo... Cada vez mais os turistas vão procurar o autêntico, aquilo que é verdadeiramente único, que tem raízes nos territórios. Por exemplo, a experiência de fazer o Queijo Serra da Estrela é algo único que só pode ser feito neste território. Acordar a ouvir as ovelhas a chocalhar ou o chilrear dos pássaros é um luxo. E é este luxo que nós queremos vender no Centro de Portugal, porque é isto que vai fazer com que a experiência das pessoas seja absolutamente distinta da que se consegue nos destinos massificados. Nada contra estes destinos, mas o que nos interessa é posicionarmo-nos num segmento e num tipo de serviço que os nossos concorrentes não t

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