Sociedade

Onde termina a liberdade de decidir sobre os filhos?

27 abr 2017 00:00

O recente surto de sarampo abriu o debate sobre obrigatoriedade da vacinação, colocando alguns pais e a comunidade médica em confronto. Nesta questão, como ainda na alimentação, na medicação ou nos partos, até onde vai a liberdade individual?

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O recente surto de sarampo, que levou já à morte de uma jovem de 17 anos, desencadeou uma alargada discussão pública sobre os direitos e deveres dos cidadãos, neste caso específico relativamente à obrigatoriedade, ou não, da vacinação.

Muitas pessoas não seguem o plano nacional de vacinas, por entenderem que os riscos são maiores que os benefícios, podendo colocar em causa, segundo os defensores do sistema, a saúde dos seus filhos e a própria saúde pública.

O JORNAL DE LEIRIA tentou ouvir cidadãos que tomaram as suas decisões de forma informada e especialistas sobre estes assuntos. Segundo a revista Visão, a jovem que faleceu vítima de sarampo sofreu um choque anafiláctico aos dois meses. Depois, não voltou a ser vacinada.

Se este é um caso que pode colocar vários pais a pensar: 'E se fosse comigo, também voltaria a vacinar o meu filho?' há outros em que sofrer de uma doença cuja vacina existe pode não significar ser do movimento antivacina. Por exemplo, Alexandra Silva “apanhou” sarampo, rubéola e papeira. “Como estava sempre doente, acabava por não ser possível levar a vacina.”

Neil Violante não vacinou os filhos por opção. “Antes do nosso primeiro filho nascer, dedicámos três anos de estudos e pesquisas sobre a informação disponível no que dizia respeito aos benefícios das vacinas, assim como aos riscos relacionados com a sua administração.

Concluímos que não havia provas científicas sólidas suficientes para sujeitar os nossos filhos ao risco relacionado com os efeitos secundários possíveis das vacinas presentemente disponíveis no mercado”, revela o médico quiroprático, sublinhando que não tem uma “atitude antivacinas”. “Esperamos umas vacinas mais seguras para os nossos filhos”, sublinha.

A Direcção-Geral de Saúde tem apelado à vacinação, considerando tratar-se de uma questão de saúde pública e de garantir a imunidade de grupo. Neil Violante lamenta a falta de “estudos científicos para assegurar a protecção do povo português e mundial sobre a eficácia e segurança das vacinas disponíveis”.

Segundo o médico de Leiria, “existem várias formas de assegurar uma forte imunidade e, infelizmente, não se tem falado dessas opções”. “Penso que devemos todos respeitar a forma como cada um deseja proteger-se e manter-se saudável. Não há uma forma única de criar imunidade. Noventa e cinco por cento dos casos de sarampo têm ocorrência nos países menos desenvolvidos, onde a higiene, a água e a alimentação são escassos. A probabilidade de morrer de sarampo para um país como Portugal é de 0,0003972%, o que equivaleria a 39 mortes por ano. Em comparação às 4600 mortes por infecções hospitalares, deveríamos dar mais importância a esta “epidemia”, pois há maior probabilidade de a contrair ao visitar um hospital do que de contrair sarampo”, constata Neil Violante.

Decisão informada Baseando-se em dados americanos recolhidos noVaccine Adverse Events Reporting System, uma vez que o “Infarmed não disponibiliza esses dados”, existe “0,002608% de probabilidade de sofrer de uma complicação grave ou morte pela administração da vacina do sarampo, o que corresponderia a 261 casos em Portugal”, reforça.

Por isso, Neil Violante afirma que se lhe pedirem conselho sobre este assunto sugere “que conversem com os seus médicos sobre os prós e contras, que pesquisem a informação válida e científica na internet ou livros de referência e que leiam os folhetos que acompanham qualquer medicamento ou vacina a fim de tomarem uma decisão bem informada”.

Não é só o tema das vacinas que é polémico. Alimentação vegan ou macrobiótica, sobretudo em crianças pequenas, ou parir em casa são outros temas pouco consensuais na sociedade portuguesa. Neil Violante e a sua família adoptaram também uma alimentação mais cuidada e saudável.

“A decisão de melhorar a nossa alimentação veio dos vários conhecimentos e estudos que viemos a adquirir na área da saúde, ao longo dos últimos 25 anos. Sabemos que o corpo humano é composto de três componentes básicas: a parte física, química e mental/emocional/espiritual. Os vários stresses ditos 'mais negativos' da vida irão influenciar estas três componentes”, adianta, considerando que a nutrição tem “uma grande influência sobre a parte química”.

Tendo em conta que “podem existir alimentos que causam mais stresses ao organismo”, a sua família decidiu “reduzir ou eliminar esses alimentos a fim de permitir ao corpo uma melhor resistência às doenças e manter um nível de energia mais elevado”. Praticam uma alimentação de tipo mediterrânico, ou seja, comem de tudo, à excepção de carne (vermelha ou branca) e leite.

“Limitamos o nosso consumo nos lacticínios, açúcares refinados, farinhas refinadas, álcool, café e gorduras de origem animal. Como não comemos peixe todos os dias, substituímos as proteínas animais por tofu, seitan, leguminosas e frutos secos.” O médico entende que este tipo de alimentação trará “a curto e longo prazo mais vitalidade e saúde”.

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