Opinião

O precariado – uma nova classe perigosa (?)

13 dez 2018 00:00

O termo precariado é um neologismo formado a partir da combinação do adjectivo precário com o substantivo proletariado,

No meu último artigo no JORNAL DE LEIRIA, escrevi umas breves notas sobre o encontro da Fundação Francisco Manuel dos Santos, em Setembro passado, sob o tema “O trabalho dá que pensar”.

Antecedendo esse encontro, a Fundação disponibilizou na internet uma publicação com dez entrevistas a pensadores deste tema do futuro do trabalho.

Para o texto de hoje, escolhi a entrevista conduzida por Rui Tavares a Guy Standing, economista formado em Inglaterra e nos EUA e que trabalhou largos anos na Organização Internacional do Trabalho, autor de uma vintena de livros sobre globalização, sindicalismo, desigualdades e ecologia sendo, igualmente, um destacado defensor do Rendimento Básico Incondicional.

O termo precariado apareceu pela primeira vez em 1980 para se referir aos trabalhadores temporários ou sazonais, mas o conceito foi evoluindo cabendo a Standing o mérito de o trazer para o âmbito académico.

Hoje existe um vasto acervo de literatura económica e sociológica sobre este tema, visto de várias perspectivas e com enquadramentos diferentes relativamente ao seu significado e génese.

O termo precariado é um neologismo formado a partir da combinação do adjectivo precário com o substantivo proletariado, mas Standing defende que o precariado é muito diferente do proletariado que foi “deliberadamente proletarizado para que fornecesse trabalho estável em contrapartida de salários, benefícios e contratos colectivos”.

Ao contrário, o precariado está habituado a ver o trabalho como instável por natureza, “uberizado”, sem local de trabalho ou horários, realizando trabalhos com qualidade muito inferior às suas qualificações, não têm nenhuma certeza sobre o rumo a dar à sua vida e têm de se sustentar, normalmente, só com salários em dinheiro, enquanto o proletariado recebe parte do seus rendimento em benefícios laborais e sociais. E o dinheiro tem perdido muito valor nos últimos anos.

Como resultado o precariado tem vindo a perder os direitos de cidadão num Estado de Direito, percorrendo um caminho inverso ao do proletariado.

Qual a esperança de viverem na sua casa, casar e ter filhos se nem sequer têm os mesmos direitos dos seus pais, mesmo dos que faziam parte do proletariado industrial?

Assim, olham para o passado com nostalgia, ficando sensíveis aos discursos de Trump, Le Pen e outros neofascistas que vão sendo eleitos um pouco por toda a Europa.

Será o precariado uma classe perigosa, como afirma Standing? A verdade é que essa classe se manifesta cada vez mais, mas não tem um projecto, um líder nem uma instituição que os enquadre e defenda.

Mesmo os sindicatos continuam focalizados na conquista de mais salários e benefícios para o proletariado, ou melhor, para a “aristocracia do proletariado”, ignorando o precariado, correndo o risco de desaparecerem com o desaparecimento dos partidos social-democratas e socialistas.

Neste quadro, as manifestações do precariado vão resvalando para a violência gratuita.

*Economista