Opinião

O interior no litoral

25 mai 2017 00:00

Como está na moda dizer-se, o melhor será olhar para a frente e fazer das dificuldades oportunidades.

Em vésperas da realização do II Fórum da Comunidade Intermunicipal da Região de Leiria (CIMRL), em que se pretende discutir o que poderá ser esta região no futuro, o Jornal de Leiria publica uma entrevista com Helena Freitas, uma das personalidades que integra o programa da iniciativa.

Professora Catedrática da Universidade de Coimbra, lidera a Unidade de Missão para a Valorização do Interior, a convite do Governo, percebendo-se pelas suas palavras que é uma profunda conhecedora desse território.

Entre outras ideias de elevado interesse e merecedoras de reflexão, Helena Freitas refere a questão do “absurdo” que representa a dicotomia litoral/interior num País com apenas 200 Km entre a costa e a fronteira com Espanha, aspecto que, aliás, intriga muita gente, nomeadamente estrangeiros que nos visitam vindos de países de maior dimensão.

De facto, é difícil perceber como é que Portugal apresenta características tão vincadas de interioridade, sendo um País tão pequeno e posicionado ao longo da costa, acabando, desta forma, por, em diversos aspectos, desperdiçar dois terços do seu território, mas também por promover desigualdades entre as suas populações.

No que à região de Leiria diz respeito, pode dizer-se que é uma boa amostra do padrão nacional, com os cinco concelhos mais distantes do mar a concentrarem apenas 11% da população do território, a apresentarem uma população substancialmente mais envelhecida e a ficarem-se bastante abaixo dos restantes cinco concelhos da CIMRL em termos de poder de compra per capita e na remuneração média dos trabalhadores por conta de outrem.

Ou seja, num território relativamente pequeno – 2.450 quilómetros quadrados – as discrepâncias são enormes, minando a sua coesão e dificultando o estabelecimento de objectivos comuns e estratégias conjuntas.

De pouco vale, no entanto, continuar a carpir mágoas sobre a realidade actual e a criticar um passado em que não se foi capaz se fazer diferente. Como está na moda dizer-se, o melhor será olhar para a frente e fazer das dificuldades oportunidades, aproveitando os benefícios (sim, também os há) do esquecimento a que aquele território foi votado durante décadas.

Os indicadores económicos e demográficos podem não ser os melhores, é verdade, mas, por outro lado, aquele território está praticamente imaculado, tendo ficado a salvo da febre urbanística que nos últimos 30 anos invadiu de tijolo e betão todo e qualquer palmo de terra livre à volta dos centros urbanos, bem como dos problemas sociais que normalmente vêm associados a essas zonas mal planeadas e ausentes de qualquer tipo de pensamento.

Arriscando algum futurismo, não tardará muito a que os concelhos do Norte da região de Leiria comecem a ser procurados por famílias que valorizem a tranquilidade, a segurança e o ordenamento em contexto urbano, sem distarem muito das cidades de maior dimensão, que as novas infraestruturas viárias colocaram substancialmente mais perto.

O futuro do dito interior pode ser prometedor, podendo os cinco concelhos referidos contribuir de forma determinante para a afirmação da região de Leiria como um todo.

*Director do Jornal de Leiria