Opinião

Nós… as crianças!

7 dez 2018 00:00

Se aos olhos dos pais somos sempre mais frágeis, e se o nosso recreio tem um limite, no reflexo daquele ecrã não é bem assim.

Naquela pequena caixa, onde prendemos o universo, somos heróis, nobres guerreiros, que no fim restauram a paz e, ainda mais importante, salvam a princesa.

Nesta cultura, sobretudo nas décadas de 80 e 90, era fácil distinguir o bem do mal, e ainda mais fácil reunir a coragem para fazer o que estava certo. Neste tempo éramos invencíveis e para tal bastava um cogumelo, uma flor ou uma pena! Aliás para sermos literalmente invencíveis no Super Mario Bros precisávamos de uma estrela, até a música era outra…

Ainda hoje me lembro da primeira vez que joguei Tetris, em casa do Ricardo, ou a primeira vez que joguei Wolfenstein 3D, em casa do Marcos, na altura não tinha um PC, e não havia problema… os meus amigos deixavam-me jogar, partilhavam. E tudo começou em casa do Gustavo com um Spectrum.
Quando recebi uma NES, no Natal, a minha casa era pequena para tantos amigos, como era a casa do Ricardo e do Bruno, quando receberam uma Mega Drive. Grande debate esse: Sega Vs. Nintendo! Já perceberam quem acabou por ter razão 2 décadas depois?

E a cave do Centro Comercial D. Dinis? Aqui havia espaço para todos, era a nossa cultura, em Leiria e no Mundo, não precisávamos de ter nada em comum com o outro player para jogar com ele. Éramos só felizes, exceto no Street Fighter, porque aí era uma questão de honra, mesmo que fosse nosso irmão, valia tudo.

Hoje começámos a preservar esta cultura em Museus não só para narrar a história das décadas em questão, desde as consolas aos jogos, passando pelas personagens, empresas, developers, música, desenhos e outros, mas também para narrar a nossa própria história.

E porque não um em Leiria? E se fosse um espaço diferente? E se fosse feito um museu também com o objetivo de preservar os valores que fazem parte desta cultura: a partilha, a entreajuda, a tolerância, a cooperação, a amizade e o respeito? E se o fizéssemos contribuindo cada um de nós, com aquela consola velha que está nos arrumos?  E se tudo isto tivesse como propósito contribuir para as crianças que hoje não veem o seu reflexo e não reconhecem os heróis que são?

Esta ideia é a prenda de natal da ***Asteriscos para Leiria, porque continua a ser para nós fácil fazer o que é certo.

Texto escrito segundo as regras do Acordo Ortográfico de 1990

*Associado da ***Asteriscos