Opinião

A morte como direito

2 jun 2017 00:00

A primeira vez que fui confrontada com a questão da eutanásia ocorreu há já cerca de 40 anos, durante a leitura de “Os Thibault”, de Roger Martin du Gard.

Neste livro, onde se descreve a vida de uma família da alta burguesia francesa, dois irmãos (Antoine e Jacques), perante o profundo sofrimento do pai e a iminência da sua morte, anteciparam o seu fim sem terem, sequer, discutido previamente esta decisão.

Na época este episódio fez-me pensar sobre a legitimidade de tal procedimento e não tive quaisquer dúvidas em considerar que fora um acto de coragem. Muito mais tarde vivi uma situação semelhante. Vi morrer lentamente, e debatendo-se com um sofrimento perfeitamente desumano, alguém que amava profundamente.

Recordei então o episódio do livro de Martin du Gard, sabendo no entanto que nunca teria coragem para tomar uma atitude idêntica. Apesar disso, reconheço que deixar alguém sofrer diariamente, esperando a morte que sabe iminente, e nada fazer, não significa respeito pela vida de quem sofre. É, em última instância, a negação da própria vida. Parece-me, pois, extremamente importante a discussão que se tem gerado em torno da eutanásia.

E bem demonstrativo da importância deste tema é o facto de há cerca de três meses ter sido entregue uma petição ao Presidente da Assembleia da República para a despenalização da morte assistida.

Esta petição, com mais de 8.300 assinaturas, foi apresentada pelo movimento cívico Direito a morrer com dignidade, que defende “a despenalização e regulamentação da morte assistida como uma expressão concreta dos direitos individuais à autonomia, à liberdade religiosa e à liberdade de convicção e consciência, direitos inscritos na Constituição”.

*Advogada

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