Opinião

Memória curta

11 mai 2017 00:00

Fernando Costa, candidato do PSD à Câmara de Leiria, como verdadeiro ‘animal político’ que é, não desperdiçou a oportunidade de utilizar politicamente a perda dos fundos europeus destinados à construção da Estação de Tratamento de Efluentes Suinícolas

Responsabilizando de imediato Raul Castro, seu mais que provável concorrente à liderança da capital de distrito.

Como é habitual nas tricas políticas pré-eleitorais, recorreu à demagogia, à falta de memória e ao discurso simplista, esquecendo-se que está em causa um problema pelo qual os leirienses ‘estão pelos cabelos’ e que exigem que seja tratado de forma séria e responsável.

É verdade que os actuais presidentes das autarquias que englobam a bacia hidrográfica do Lis, onde se inclui Raul Castro, mas também os presidentes das Câmaras da Batalha, de Porto de Mós e da Marinha Grande, não podem deixar de ser apontados por não terem feito mais para que a obra se concretizasse.

Como de resto acontece com os deputados eleitos pelo distrito de Leiria e com os ministros da Agricultura e do Ambiente e respectivos secretários de Estado.

Mas não é razoável estar a apontar o dedo a quem está agora no poder e esquecer as dezenas de responsáveis políticos que, nos últimos 30 anos, se cruzaram com o problema sempre com o mesmo resultado, que, tal como agora, foi nenhum.

Nem parece muito sensato que Fernando Costa tente retirar dividendos políticos de um problema que o seu partido teve várias oportunidades para resolver, quer nas presidências das câmaras acima referidas (excluindo a da Marinha Grande), quer nos vários momentos em que governou o País.

Aliás, o próprio Fernando Costa, enquanto deputado e líder da estrutura distrital do PSD, poderia já ter colocado a sua energia e influência ao serviço da resolução deste problema, de que só agora se parece ter lembrado.

No fundo, para quem sofre com o problema há três décadas, pouco importa agora que se discuta quem são os responsáveis políticos e se traga o problema para o “acusa-acusa” característico dos períodos pré-eleitorais.

O que essas pessoas desejam é que o problema seja resolvido e que, de uma vez por todas, se acabe com aquele bocado de terceiro-mundo às suas portas.

Por coincidência, na semana em que se ficou a saber que o financiamento destinado à construção da ETES se perdeu, as análises que a Oikos realiza anualmente na bacia hidrográfica do Lis mostraram que a qualidade da água voltou a piorar, apresentando níveis de contaminação preocupantes em nove dos 15 pontos analisados.

Não há já, de facto, outras palavras para falar deste assunto que não sejam vergonha e falta de respeito.

Mas a verdade é que também nós, habitantes desta região, não nos temos dado ao respeito, continuando a comprar carne de porco aos poluidores. Talvez a situação mude no dia em que o crime deixe de compensar…

*Director do JORNAL DE LEIRIA