Economia

Leiria lança projecto-piloto para atrair mão-de-obra internacional

27 set 2018 00:00

Ultrapassar o problema da escassez de recursos humanos nas indústrias de moldes e plásticos terá de passar pela capacidade de cooperação do cluster. A Câmara de Leiria já está a trabalhar num projecto-piloto para captar e fixar mão-de-obra estrangeira

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Daniela Franco Sousa

O problema das empresas não reside no facto de serem pequenas, mas, sobretudo, no facto de serem sozinhas, frisam os maiores estudos acerca dos clusters. Os sectores dos moldes e dos plásticos sabem-no bem e têm conseguido, desde há muito, e de forma exemplar, tirar partido das estreitas relações entre as suas empresas, as associações e os centros de saber das regiões onde estão inseridos.

Mas hoje, e mais do que nunca, é urgente que o cluster reforce as suas parcerias para combater o problema da falta de mão-de-obra qualificada, um flagelo que está a condicionar estas indústrias de forma transversal. A Câmara de Leiria já deitou mãos à obra e vai avançar com um projecto-piloto que visa captar recursos humanos vindos de outros países.

A novidade foi avançada pelo próprio presidente da Câmara de Leiria, Raul Castro, na passada terça- feira, na Quinta das Silveiras, durante o jantar-tertúlia organizado pelo JORNAL DE LEIRIA, uma iniciativa que abordou o tema Vantagens Competitivas dos Clusters Industriais e que assinalou a publicação da revista Moldes&Plásticos de 2018.

O autarca sublinhou que nesta fase em que está a trabalhar no alargamento de várias zonas industriais do concelho, a Câmara de Leiria percebeu com nitidez a real dimensão do problema da falta de recursos humanos qualificados para trabalhar na indústria.

Raul Castro explicou que são precisas largas centenas de pessoas para satisfazer as necessidades das empresas e que, se nada for feito, fica comprometida a viabilidade dessas indústrias.

Do lado do Município, adiantou Raul Castro, esse trabalho já está a ser desenvolvido e o objectivo é lançar um projecto-piloto de atracção e de fixação de mão-de-obra estrangeira na região. Nesse sentido, a Autarquia está a dialogar com o Ministério do Trabalho e com o Ministério dos Negócios Estrangeiros e está também a preparar inquéritos, contando com a parceria do Politécnico de Leiria e com a Nerlei, de forma a obter um levantamento das necessidades das empresas e dos países que poderão oferecer resposta através dos seus recursos humanos.

Raul Castro notou também que o projecto-piloto vai obrigar as autoridades a estudar questões relacionadas com matérias de segurança, e vai obrigar a reflectir sobre as questões da habitação. Se em Leiria não há imóveis disponíveis, a solução até pode passar por criar linhas de financiamento para que os empresários construam as instalações de que precisam para acomodar os seus colaboradores.

Este constrangimento foi de resto partilhado pelos vários empresários e académicos presentes no jantar-tertúlia. Orador convidado, Alberto Castro, professor da Católica Porto Business School, começou por elogiar a inter-relação das indústrias que integram o cluster de moldes e de plásticos, uma ligação que lhes tem permitido obter grandes resultados em termos de exportação, apesar da pequena dipõem.

E sublinhou a importância da cooperação para partilhar conhecimento, para obter linhas de financiamento e para ganhar escala num mercado global. E há vários problemas que vão exigir trabalho em conjunto por parte do cluster.

Entre outros, o professor destacou o clima de instabilidade política (a administração norte-americana poderá colocar barreiras à entrada de produtos estrangeiros, o que exigirá dos empresários portugueses a procura por novos mercados).

Há também que resolver a escassez de recursos humanos para trabalhar nas indústrias (que se deve a uma redução demográfica e à má imagem que os jovens têm das indústrias). E neste caso, aponta Alberto Castro, empresas, autarquias e centros técnico-científicos, todos os membros do cluster têm de se unir na promoção do sector e na atracção dos recursos humanos.

Nuno Rodrigues, vice-presidente do Politécnico de Leiria, elencou muito do trabalho que tem sido feito pela instituição no sentido de captar e de formar recursos humanos qualificados para estas indústrias. Falou da estreita relação do politécnico com as empresas, com as quais tem trabalhado na resolução de problemas; da atribuição das bolsas de estudo IPL Indústria; e da oferta de vários níveis de ensino, onde estudantes estrangeiros ficam e reforçam equipas de empresas da região.

José Vasco, da Novares, frisou que esta empresa portuguesa é vista como uma referência pelo resto das unidades que compõe aquela multinacional. O facto de ter sido desde sempre muito selectiva com os parceiros desta região tem sido uma das razões de sucesso da Novares, considerou José Vasco. E o empresário defendeu também que não é por obra do acaso que tantos alunos estrangeiros têm estudado no Politécnico de Leiria. Reconhecem os resultados das parcerias firmadas entre empresas de moldes, empresas de plásticos e os centros de saber desta região, expôs José Vasco.

Em jeito de provocação, Rui Tocha, diretor-geral do Centro Tecnológico da Indústria de Moldes (CENTIMFE), falou sobre a importância da organização e do trabalho concertado entre os municípios de uma região, no sentido de criar condições para a instalação de empresas e fixação de mão-de-obra. E Cidália Ferreira, presidente da Câmara da Marinha Grande, admitiu que ainda falta melhorar a estratégia de captação de pessoas que queiram conhecer e ficar no seu concelho.

“Não conseguimos toda a mão-de-obra de que precisamos”, considerou também Fernando Vicente, da Somema. A trabalhar no sector dos moldes há 40 anos, o empresário da Marinha Grande referiu que a indústria evoluiu muito, com uma grande componente de maquinização, que exige pessoas cada vez mais capazes para operar com essa nova tecnologia.

A Indústria 4.0 foi também tema de reflexão neste jantar. Enquanto Paulo Ferreira, da Isicom, estimou que o futuro possa ser de substituição total, ou quase total, da máquina pelo homem, já Nuno Morgado, presidente da Associação Acção para a Internacionalização, entendeu que o trabalho de estratégia comercial passará sempre pelo homem, a quem compete procurar novos mercados.

Também o economista Eduardo Nogueira considerou que é possível encontrar mão-deobra qualificada noutros países e que existem vários licenciados em línguas que devem ser utilizados para firmar pontes com os novos merca

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