Sociedade

Jorge Dias: "Sempre fui estando muitas coisas e também fui estando poeta. Agora assumo-o sem receios"

3 dez 2017 00:00

A noite, as relações humanas e um dj set para o fim do mundo.

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Já lhe chamam doutor gerente?
Não e espero que nunca. Prefiro manter uma certa discrição. 

Além da arca cheia de minis, o que é mais importante na gestão de um bar?
Desde uma contabilidade assertiva à auditoria permanente do stock, há bastantes coisas a fazer. Primo por uma auto-exigência que tento expressar nos vários detalhes que possam agradar ao cliente. Apostar no conforto e na festa em comunhão. Fazer "respirar" um ambiente seguro e agradável. Apostar na simpatia e formação contínua do staff. Manter um olhar atento ao mundo e aproveitar a noite como reflexo primário de tendências sociais para fazer brotar novos conteúdos programáticos. Comunicar bem interna e externamente. Entre muitas outras coisas.

É justo dizer que vive mais tempo no Anubis do que em casa?
Justíssimo! Há perto de 20 anos. De dia e de noite vou passando lá mais horas, restando as horas de sono praticamente para a minha casa. Conciliar a posição de gerente e trocar uns discos ainda me dá água pelas barbas e a perda do (pouco) cabelo que me restava.

É desta que tira o pó ao canudo sacado na ESECS?
Já o fazia com regularidade. Nunca foi um objectivo per si, apenas quis desenvolver novas capacidades e aprender mais. 

Licenciatura em Relações Humanas. Aprende-se mais na escola ou na cabina do DJ?
Tem graça que sempre disse que 30% na cabina era a passar música e os restantes 70% era observação. Aprendi muito sobre a condição humana on job, mas agreguei a esse conhecimento empírico todas as teorias de relações humanas e comunicação organizacional. Uma potenciou a outra claramente. Quando se entra com 30 anos para a faculdade já se leva a lição bem estudada da vida e do trabalho.

Porquê DJ Cuts?
Na época (1999) havia uma expressão para mistura em inglês que era cuts tal como era utilizada na produção electrónica. Eu também tinha a mania (e mantenho ainda um pouco, para irritação de alguns meus amigos) de cortar as músicas para manter as pessoas ligadas à corrente. Curiosamente uma prática muita utilizada nos dj sets do mainstream hoje em dia.

Imagine que o mundo acaba amanhã e alguém dá uma festa: sons obrigatórios no último set?
Prince – 1999; The Clash – Rock the Casbah; The Strokes – Hard to Explain; Jay Z – 99 Problems; Pearl Jam – Alive; N.E.R.D. – She Wants to Move; Motorhead – Ace of Spades; Daft Punk – Rock 'n' Roll; Surma – Voyager; Nick Drake – City Clock; Jeff Buckley – Last Goodbye.

E um som que o DJ Cuts não passa nem que o mundo acabe amanhã?
Não tenho complexos, mesmo que o mundo acabe amanhã!

É mais livre na cabina ou no vento das palavras?
Qualquer um dos dois tem em mim um efeito catártico. Passar música para pessoas aproxima-me de um músico que "toca" as pessoas. Já na escrita, tudo é meu de raíz, e aí sim, sou autor das palavras "dançantes" no vento. Umas encontram as pessoas, outras libertam-me!

Para onde é que voa a palavra de Jorge?
Para onde a palavra em si sinta que deve ir. Livremente. Como no processo da música que é produzida sem compromisso com o resultado. Apenas ela ser e chegar a quem a queira receber. Aí sim, terá uma alma para a acolher e fazer dela o que bem entender. Na música como na escrita. A beleza da arte.

Sente-se poeta ou está poeta?
Sempre fui estando muitas coisas e também fui estando poeta. Agora assumo-o sem receios. Bom ou mau, sinto-me també

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