Opinião

João Vasconcelos

28 mar 2019 00:00

Deixa também um sentimento de perda por tudo o que ainda teria para dar a esta região e ao País, que lhe tem a agradecer a dedicação cívica e o entusiasmo que sempre colocou.

Não haverá maior crueldade nesta vida do que perder alguém de quem se gosta. A tristeza de ver partir o pai ou a mãe, o parceiro ou o amigo só será suplantada pela dor e revolta de ficar sem um filho, vendo a lógica da natureza ser deturpada, algo inimaginável para quem tem a felicidade de nunca por isso ter passado.

É, pois, sob um cocktail de emoções de angustiar a alma que os mais próximos de João Vasconcelos estarão a viver estes dias, muitos ainda incrédulos com o ocorrido e a mastigar aquela questão que nos invade o íntimo nestas situações: “Como é possível?”

Indo contra o que Miguel Esteves Cardoso escolheu em tempos para título de um livro seu, a puta da vida não é sempre linda, às vezes é mesmo puta… 43 anos, dois filhos pequenos, inúmeros projectos a fervilhar na cabeça, alegria de viver a rodos… Como é possível?

Ficará na memória como uma pessoa que foi sempre igual a si própria, mesmo sob as luzes dos holofotes e o mediatismo inerente aos cargos que ocupou.

De alguém que não se esqueceu de onde veio e dos que com ele fizeram o princípio do caminho da vida.

Deixa também um sentimento de perda por tudo o que ainda teria para dar a esta região e ao País, que lhe tem a agradecer a dedicação cívica e o entusiasmo que sempre colocou nos cargos públicos que ocupou, em especial enquanto secretário de Estado da Indústria, onde foi um dos principais responsáveis pela vinda do Web Summit para Lisboa e o rosto da indústria 4.0 em Portugal.

Os mais curtos de espírito, e como é sabido há muitos, ficarão agarrados ao fait divers do Galpgate.

A maioria, no entanto, guardará a imagem de alguém que esteve na linha da frente da digitalização da economia nacional, nunca se conformando com a triste sina do trabalho desqualificado e de salários baixos defendida tantas vezes como a única solução para o nosso País.

Da equipa do JORNAL DE LEIRIA vai um obrigado pela disponibilidade que sempre demonstrou e as sentidas condolências a toda a família e amigos.

Deste teu amigo segue um grande abraço e a certeza de que as vésperas de Natal na Livraria Arquivo ficarão mais pobres.

*director