Opinião

A importância da educação e de bons professores

11 jul 2016 00:00

Viro e reviro as páginas dos meus dezoito anos de ensino e são poucas aquelas que perduram escritas.

Mais de oitenta professores depois, contam-se por uma mão os que ainda marcam a minha vida. Umas manchas de tinta aqui e outras acolá, e os autores delas, esses foram aqueles que fizeram muito mais que recitar o manual.

Uns colegas argumentavam que eram os mais chatos, pois aquilo que tinham para dizer não findava com o toque da campainha. Outros gastavam a tinta da caneta e as folhas do caderno, usando isso como portal para todo um novo universo de conhecimento e de compreensão.

Esse portal é chave tanto na educação como na formação do ser individual e do cidadão. E é o que faz a educação não ser de um regime fast food - rápido e pouco nutritivo -, em que se estuda para um teste tendo como objectivo a obtenção de um determinado número como nota, e consequentemente uma média. E saciado o resultado, segue-se em frente sem olhar para trás.

Quando a guerra das notas e das médias termina e se sai da bolha da escola, o que fica não são os números mas esses portais que ao longo da vida se vão abrindo e transformando numa cadeia de portas, portinhas e portões. Se a educação cultivar essa cadeia e ensinar todos, primeiro a compreender o mundo e a história dele, e depois a pensá-lo e questionálo verdadeiramente, então mais probabilidade existe de surgirem novas ideias, modelos e soluções. Pois mais pessoas estão conscientes daquilo que não está bem e do muito que há por fazer.

Por outro lado, se o sistema de educação não ensinar a pensar fora daquilo que já existe e se continuar a valorizar sobretudo estatísticas, menos irá semear esses criadores de ideias que tanto nos fazem falta. Com os problemas que têm surgido atualmente, seja no nosso pequeno retângulo ou no resto do mundo, acredito que muitos deles seriam evitados se as pessoas questionassem a superfície que veem e que lhes é mostrada. Teriam um escudo muito mais resistente a manipulações, demagogias e aparências. E consequentemente, encurtavam a margem de manobra que muitos disfarçados gozam. E ainda teriam armas dotadas de pensamento crítico que perfurariam destemidamente a superfície da realidade numa busca em nome da verdade.

O mundo precisa desses cidadãos armados, de mais autores e de vozes que questionem aquelas que se ouvem de cima, e precisa sobretudo de professores que estejam nessa frente de batalha. Pergunto-me onde estaria hoje e de que cor seriam os meus olhos se em vez dos meros cinco professores que me fizeram questionar tudo aquilo que me rodeia tivesse tido os outros 75 a fazê-lo. Provavelmente, o livro que revisito agora seria mais grosso e muito mais recheado de tinta.