Opinião

Falar com o tempo - Parar é também caminhar

10 mai 2018 00:00

Parar é perder tempo, mas como diziam os apóstolos da deambulação urbana dos finais do século XIX, é perdendo tempo que ganhamos espaço, outros espaços.

O primeiro livro, de 2013, de Francesco Careri intitulou-se Walkscapes: Andar Enquanto Prática Estética. Três anos mais tarde publicou Andar e Parar. Depois da apologia do nomadismo, o arquitecto vem reconhecer que, no percurso, os incidentes são virtuosos, havendo que os acolher, senão mesmo que os provocar.

Em suma, o deambular obriga a que, por vezes, nos detenhamos. Se há uma arte do andar, há igualmente uma arte do parar. Parar é por vezes o resultado de um imprevisto, obstáculo em que tropeçamos, ou mera constatação de que nos perdemos. “Caminante, no hay camino”, escreveu Machado, “se hace camino al andar”.

A margem de indeterminação não pode ser eliminada em qualquer rota previamente definida. Parar é perder tempo, mas como diziam os apóstolos da deambulação urbana dos finais do século XIX, é perdendo tempo que ganhamos espaço, outros espaços.

O elogio da paragem de Careri recordou-me um outro livro fascinante, O Bom Uso da Lentidão, de Pierre Sansot. O ensaio de Sansot vem recuperar noções mal afamadas como o lento, o retardatário. De facto colou-se ao lento a ideia de que é inábil, pesado, pouco caloroso. Exaltámos os magros, expeditos, que triunfam no cálculo mental e na destreza. 

O autor pretender objectar a que a vontade funcione como um acelerador da duração, deixando-se conduzir pelo tempo. Advoga, em contrapartida, que devemos aumentar a nossa sabedoria, ou seja a nossa capacidade para acolher o acont

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