Sociedade

A escola não tem de ser aborrecida

16 fev 2017 00:00

Há escolas que aplicam métodos de ensino diferentes, que aumentam a motivação dos alunos pelas aprendizagens. As matérias são aprendidas ao ritmo de cada um e, sobretudo, através da experiência

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"Aceite as crianças com reverência, eduque-as com amor e encaminheas com liberdade." Esta frase é de Rudolf Steiner, um filósofo austríaco, que criou a pedagogia Waldorf, em 1919, na Alemanha.

Cada vez são mais aqueles que entendem que o modelo educativo tradicional há muito que se esgotou. Há cerca de 20 anos os jovens brincavam livremente na rua, não tinham telemóveis e um computador estava acessível a poucas pessoas. O conhecimento estava no professor e quem queria saber mais procurava nas grandes enciclopédias da biblioteca.

Em pleno século XXI, diz o senso comum, as crianças já nascem a saber mexer em tecnologia, deixaram de brincar na rua, têm o telemóvel de última geração e o conhecimento está no bolso, rapidamente acessível através do 'Dr. Google'.

Com tanta mudança seria de esperar que a escola também se tivesse adaptado aos tempos, privilegiando o ‘pensar fora da caixa’, o ter opiniões próprias, a descoberta ou o respeito pelo ritmo do aluno. Albert Einstein, que foi um mau aluno, já dizia que “todos somos génios, mas se julgar um peixe pela sua capacidade de subir a uma árvore, ele passará o resto da vida acreditando que é um idiota”.

Este brilhante matemático lamentava que o sistema académico estivesse estruturado para valorizar algumas aptidões e desprezar outras. É com o objectivo de contrariar esta realidade que têm surgido em Portugal novas correntes pedagógicas, inspiradas em métodos comprovadamente de sucesso, onde a criatividade, liberdade, responsabilidade e muita alegria fazem parte do dia-a-dia da criança.

Ana Heleno, estudante da pedagogia Waldorf e mãe de um menino de quatro anos, com o qual pratica a mesma, é uma das milhares de pessoas em todo o mundo que defendem este ensino. “Esta pedagogia procura integrar de maneira holística o desenvolvimento intelectual, físico, espiritual e artístico de cada criança”, explica.

Trabalhar a favor e não contra a tendência natural das crianças, através e com a sua imaginação e criatividade inatas, valorizar as experiências sensoriais nos primeiros sete anos de vida e viver ao ritmo das estações do ano, são alguns dos princípios da pedagogia Waldorf, ainda pouco divulgada em Portugal.

Esta pedagogia tem como base o conceito de que o desenvolvimento de cada ser humano é diferente e como tal deve levar em conta as diferentes características de cada indivíduo, respeitando sempre a capacidade de compreensão de cada um. “A formação Waldorf inclui as vertentes científica, artística e estética no processo educativo de desenvolvimento da criança”, refere Ana Heleno, sendo que nos primeiros anos de vida o método Waldorf centra-se mais no desenvolvimento motor e sensorial da criança, deixando para segundo plano os aspectos intelectual e cognitivo.

"É por isso muito importante que as crianças brinquem livremente, ao ar livre, que expressem aquilo que realmente sentem, não a partir das nossas agendas e ritmos acelerados, mas a partir daquilo que lhes desperta curiosidade, vontade de descobrir, criar e desenvolver”, desabafa.

As escolas e jardins Waldorf desenvolvem os “sentidos das crianças, estimulam a imaginação, a criatividade, a vitalidade e a alegria de viver, apostando sempre numa maior ligação e respeito pela natureza”, aponta Ana Heleno, ao referir que os pais que procuram espaços onde se pratica esta pedagogia desejam que os seus filhos tenham uma formação baseada num modelo de desenvolvimento “com mais criatividade, mais liberdade, em harmonia e ligação plena e diária com a natureza, com alimentação saudável para o corpo, com actividades que vão ao encontro do ritmo natural da criança, da sua alma e espírito”.

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