Opinião

Donald Obama

22 jun 2018 00:00

A imagem corre mundo. Uma criança fechada numa jaula.

Como a imagem foi descontextualizada (pertence a uma manifestação, encenada e convocada exactamente para debater e demonstrar o drama da Imigração nos EUA), parece que já não conta e entra mais uma vez para o rol das desculpas, que em Inglês Americano se convencionou chamar de fake news.

É um esquema brilhante este do Trump. Dividir o mundo em dois: verdade e mentira e ignorar os factos que, neste mundo partido em dois, são muito mais que meras verdades ou mentiras.

O grande monstro Americano não tem um só nome. Não se chama, Bill, George, Barack ou Donald. Também não tem só um sobrenome, tem vários. Desde o Truman que lançou a bomba sobre Hiroshima e Nagasaki; aos Bush(s) que destruiram o Médio Oriente; ao Clinton que bombardeou Belgrado ao Obama que inventou a Primavera (de destroços) Árabe, são várias as assinaturas nas infames ordens para atacar ou “proteger”.

Quando o Obama ganhou as primeiras eleições eu estava em Las Vegas, por mero acaso, em tour. Talvez a pior cidade para partilhar o meu estúpido entusiasmo Europeu pela eleição do primeiro presidente negro da História dos EUA.

As pessoas, lá, queriam era jogar, beber na rua (permitido no Estado do Nevada) e vender-me timeshare e saber o que é que eu lá estava a fazer. Muitas dessas pessoas, nas ruas, eram hispânicos. Tal como no concerto que lá demos nessa noite.

Depois do terror Bush filho, acho que o Mundo respirou de alivio. O Canadá e a Europa receberam Obama como um verdadeiro aliado e amigo. Um tipo acessível, educado, que bebia vinho tinto, dançava, com um cool incrível que se nos apaixonou a todos nós, sempre dividiu os Americanos.

Passados alguns anos e com a perspectiva histórica da ruptura política nos EUA, com a eleição de dois presidentes out of the box, o fenómeno Obama desapareceu, as suas “conquistas” politicas esfumaram-se, a sua influência parece nula desde que Trump o substituiu na Sala Oval.

Obama é, talvez, o maior responsável por termos Trump como presidente dos EUA. O Donald é um bully e pensa como um. Depois da sua dança ridícula com as candidaturas através dos anos, foi no Jantar dos Correspondentes da Casa Branca, que Trump se decidiu a candidatar e a ganhar.

Tinha havido uma polémica acerca da certidão de nascimento do presidente Obama. Lembram-se? Isto não é de agora. Trump liderou essa inquisição levando a Casa Branca e Obama a libertarem uma cópia da certidão de nascimento de Obama que constatava o óbvio, ele era um cidadão Americano.

O presidente veio ainda falar disso numa conferência de imprensa, totalmente dirigida a Trump, dando-lhe uma importância que ele não tinha, até à altura, uma dimensão politica. Esse foi o primeiro erro.

O segundo, foi naquele jantar, onde Obama aproveitou para ajusta contas com o Donald, humilhando-o, pisando a sua arrogância, num discurso jocoso, extremo, pontiagudo que claro Trump mais que merecia, mas que o deixou num estado de sitio interior, com o ódio a amargar dentro de si, algo a nascer e que nos iria devorar a todos.

Obama foi, pela atenção que deu a Trump e por não ter resistido à doce vingança, um dos grandes responsáveis pela candidatura de Donald Trump. 

Trump rompeu com quase todos os acordos. Borrifou-se para a palavra, para a honra, para a fraternidade entre povos. Já podemos fazer uma lista dos acordos que rasgou. Infelizmente, não fez o mesmo internamente, continuando uma politica desumana de imigração, com promessas de muros gigantes e de guerra feita a quem tenta cruzar a fronteira para ter uma vida melhor.

Fica-lhe com os filhos, com a dignidade, com o sonho, coisas que fotografias não podem ou ousam capturar; momentos que as pessoas, principalmente os Americanos, não querem verdadeiramente discutir presos no seu sonho podre de lideres de um mundo livre, o país que tem mais presos na prisão, recordista absoluto do encarceramento. 

Se alguém se interessa ainda pelo México, é só ler a sua historia atribulada desde a chegada dos espanhóis e da emancipação dos piores vizinhos que se podem ter: os EUA. Foram estes responsáveis, directa ou indirectamente, pela perda de 40% de território Mexicano, nos 20, ou 30 anos que se seguiram à Independência do México.

Numa lógica de "queremos comprar, ah! não vendem, então bang bang, guerra e rendição incondicional", e depois, na sua generosidade capitalista pagavam o previamente oferecido para que o México reconstruísse o que os cowboys tinham mandado abaixo.

E assim se foi grande parte da California, do Texas, onde agora prendem as crianças mexicanas e os seus progenitores em condições que desrespeitam qualquer direito humano, perante a passividade total dos Americanos que afinal até gostam que a sua América seja great outra vez, custe o que custar, especialmente se forem os Mexicanos que lhes limpam as casas, que lhes cortam a relva, que lhes poem a comida no prato e lhes aturam os filhos enquanto eles jogam mini-golf, sim se forem esses e outros como eles a pagarem em sangue o preço da America Grande.

O grande monstro Americano não tem um só tempo, nem um só verbo. Tem uma tradição de um país malvado e velhaco para o mundo. Um país onde a democracia é votada por um povo caprichoso, revoltado e idiota que escolhe presidentes negros, ou stupid white men, ou tarados sexuais ou lordes da guerra, para mandarem no seu futuro e infelizmente para nós exportar o mal e o ódio que lhes vai na alma. 

Oh, say! can you see…

*músico e vocalista de Moonspell