Opinião

Decidir a toque da morte

27 set 2018 00:00

Dez mortes em nove meses é o cartão de visita que o IC8 apresenta em 2018, número que fará pensar todos quantos são obrigados a utilizar essa estrada, com menos ou mais regularidade.

Curiosamente, e apesar de todos os alertas que têm sido feitos, inclusive pelo próprio presidente da Assembleia da República, as autoridades rodoviárias não têm identificado qualquer ponto negro naquela via, que liga Pombal ao interior do distrito, nem tampouco esta foi merecedora de qualquer investimento nos últimos anos.

No entanto, perante factos não há argumentos, pelo que é mais que óbvio que algo não está bem, podendo-se legitimamente entender que a referida inacção é merecedora de ser apelidada de negligente, para não dizer criminosa.

Como é hábito acontecer no nosso País, “depois de casa roubada, trancas na porta”, pelo que é de esperar que, como aconteceu no IC2, o drama de tantas vidas ceifadas naquele alcatrão obrigue os decisores que se atropelam pelos gabinetes de Lisboa a fazer qualquer coisa, que até pode ser apenas aquilo que é reivindicado há muito, que inclui soluções tão simples e pouco dispendiosas como colocar separadores entre as faixas de rodagem.

Faça o que se faça agora, nada apagará, no entanto, as vidas que aquela estrada engoliu, uma dor profunda para os seus próximos, que não passam de estatística para quem, lá longe, tudo decide sob a perspectiva de uma folha de excel. As responsabilidades, essas, ficarão como quase sempre por apurar.

O Leiria Sobre Rodas, iniciativa que teve este ano a quinta edição e que tem sido uma das bandeiras da Câmara de Leiria, atraiu, segundo a organização, 50 mil pessoas, provando o entusiasmo que esta região tem pelo mundo automóvel e pelos desportos motorizados.

Foi, portanto, um êxito, não só pela enorme mobilização de público, mas também pelas oportunidades de negócio que as diversas representações de marcas de carros, motas e outros veículos terão tido, não esquecendo o impacto da iniciativa na economia local, nomeadamente na restauração e hotelaria.

Goste-se ou não da iniciativa, parece ser inegável que conquistou, com mérito, o seu espaço no calendário de actividades da cidade e que veio para ficar. No entanto, não deixa de ser merecedor de reparo e reflexão que o Leiria Sobre Rodas tenha acontecido em plena Semana Europeia da Mobilidade, terminada no Sábado passado com o Dia Europeu sem Carros, que teve a maior adesão de sempre em Portugal, envolvendo 94 municípios e 98 localidades.

As cidades podem seguir dois caminhos, o que entendem ser melhor para as suas populações, ou o que acham que estas mais gostam. Neste caso, a Câmara de Leiria está a seguir o segundo caminho, legitimado, pelo menos, por 50 mil pessoas. Opções…