Opinião

De como, numa Páscoa, a empatia me ter chegado de triciclo

18 abr 2019 00:00

Nas casas todas as janelas continuam fechadas e o som do bater nas carpetes já não se ouve… Porém, algo me distrai.

O tempo da Páscoa está aí e continua a ser, para mim, um tempo muito especial. Mesmo sem recurso ao calendário gregoriano, sinto que conseguiria adivinhar a sua chegada.

Quando a natureza no seu labor me revela o equinócio da primavera e a ele se vêm juntar dias cinzentos de Sol que me deixam triste e me convidam à introspeção eu já sei, é Páscoa!

Acho que esta necessidade de, neste tempo pascal, me autoanalisar nasceu quando era criança, estimulada pelo que via e sentia acontecer, nessa época do ano, na família.

Por um lado, as limpezas da Páscoa, todas as janelas abertas de par em par, o cheiro a cera, o amontoado de papéis de jornal com que se dava lustro às pratas e o som forte e seco do bater nas carpetes para lhes tirar o pó, obrigavamme a ficar, voluntariamente, enclausurada no meu quarto.

Era demasiada desordem para mim, só me restava, no meu canto, pôr-me a pensar.

A pensar na alegria que a seguir àquele desconforto se instalava na família e a meditar nos porquês de dar tanto trabalho e exigir tantos sacrifícios, o simples ato de se querer ser feliz!

Por outro lado, nascida e educada no seio de uma família cristã, eu fui ensinada a ver na Ressurreição de Cristo a prova de como só o amor pelo outro pode vencer a morte e convenhamos que tal conceção me dava (ainda hoje me dá) muito que pensar.

Mas, agora tudo mudou, olho para a rua e em vão procuro sinais das limpezas da Páscoa. Fico melancólica, nenhum!

Nas casas todas as janelas continuam fechadas e o som do bater nas carpetes já não se ouve… Porém, algo me distrai.

Uma senhora que vai a passar carregada de sacos deixa cair um deles e observo um rapaz, daqueles que usam as calças a ameaçar cair pelas pernas, apressar-se para a ir ajudar.

Trocam umas palavras e seguem juntos, o rapaz com os sacos da senhora, ela com a sua malinha de mão!

Engraçado, acabei de sentir como a minha Páscoa me obriga a relativizar a importância das minhas memórias. O que me interessa saber se as limpezas da Páscoa desapareceram?

Como tal cois

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