Opinião

Das refeições

9 mar 2017 00:00

A hora da refeição é um desafio.

Sejamos sinceros, desafio é uma palavra bonita que se usa hoje para descrever o que se passa na realidade, um eufemismo em todo o seu esplendor. A hora da refeição é um caos. Pronto, já disse.

A Princesa anda numa escolinha que segue o método Piaget cruzado com mais uns quantos que não consegui fixar o nome, o que implica que desde muito cedo seja incentivada a comer sozinha.

Isso em teoria é muito bonito e acho muito bem, sim senhora, com certeza, mas eu é que sei a quantidade de rolos de papel que se gasta por refeição, enquanto luto com ela para ser eu a ajudar e ela quer fazer tudo sozinha, o que invariavelmente resulta num babete inundado de sopa, uma cadeira inutilizada, um pijama cheio de massinhas e bagos de arroz espalhados pelo chão.

Num dia bom temos sopa também no cabelo e uma leve sensação de derrota porque parece que todos os nossos esforços foram em vão e ela não comeu (quase) nada.

O Ninja come muito bem a sopa, mas depois começa a brincar com o segundo e a arranjar todo o tipo de desculpas para se virar para a irmã e desestabilizar mais um bocadinho. 

Primeiro é porque está quente, depois é porque já está frio, depois não gosta de qualquer-coisa-que-nesse-dia-se-lembrou e põe de lado, normalmente no meu prato.

A fruta é mais ou menos consensual, e eu e o pai aproveitamos para tentar comer nessa janela de 10 minutos, à vez, sempre ao som de choros, birras, perguntas tontas com o objectivo de nos fazer rir ou, esta é nova, com a miúda a repetir “áua, áua, áua, áua…” até alguém lhe dar água e ela beber um bocadinho, só para de seguida começar a regar aqueles bagos de arroz que estavam no chão, a ver se crescem.

Não crescem, só se tornam ainda mais difíceis de apanhar do chão, mais tarde, quando eles já foram dormir.

Ainda há dias uma amiga bemintencionada me elogiava a magreza que voltou rapidamente, mesmo depois de ter dois filhos. Não é ginástica, não é dieta, não é nenhum segredo que eu consiga partilhar convosco. É genética e refeições atribuladas. E um nervoso miudinho que nos acompanha sempre depois de sermos mães: a preocupação de que os nossos filhos possam não estar a ser alimentados como deve ser.

Mesmo que andem nos percentis 90 (nunca percebi muito bem o que era isso, mas parece que é bom) e vistam roupa dois tamanhos acima da idade deles. É uma cena da maternidade. Já as nossas avós sofriam disso, lembram-se? Só que agora a obesidade infantil parece ser um problema mais recorrente. Noutro dia falamos disso, agora tenho de ir ali aspirar o chão.