Opinião

CULTURA, UNIVER(CIDADE) E (DES)ENVOLVIMENTO – XIII

29 nov 2016 00:00

Da transformação do IPLeiria em Universidade e da docência de Marcelo Rebelo de Sousa no Ensino Politécnico

Escrevi, numa das últimas semanas, que talvez aprofundasse, entretanto, algumas das matérias tratadas na abertura do ano académico de 2016/17, a 16 de novembro, onde a “oração de sapiência” foi feita pelo presidente do Conselho Geral (CG) do IPLeiria, professor Pedro Lourtie.

Tempo também para o presidente do IPLeiria lhe atribuir a condecoração de “professor Honoris Causa”, assunto que, com exceção do Diário de Leiria [e JORNAL DE LEIRIA], foi mais ou menos ignorado pela restante comunicação social.

Mas não há muito mais para dizer. Acrescento que o CG está a chegar ao final do seu mandato, que voltou a não conseguir alterar os Estatutos do IPLeiria, processo iniciado há vários anos, mas que sai, pelo menos, com ideias claras sobre o futuro da transformação do IPL em Universidade.

Acrescento, também, que Pedro Lourtie nos deixou uma pequena brochura intitulada “Diversidade no Ensino Superior: Organização, Missões e Graus Académicos”onde termina dizendo que “a evolução a que se assiste nos vários sistemas binários europeus, conjugada com a abertura dos objetivos dos doutoramentos realizados na Europa e um mercado de trabalho para doutorados mais diversificado, aponta para que a outorga do grau de doutor pelas actuais instituições politécnicas seja uma evolução natural”.

Muito senso-comum e demasiada explicação biologista. Efetivamente, não se trata nem de “evolução” (cf. críticas ao evolucionismo do séc. XIX) e muito menos de “evolução natural”. Trata-se, outrossim, de um luta política entre centro e periferia onde Lisboa e os universitários continuam a determinar a missão de cada um dos subsistemas de ensino superior.

Nada a esperar com evoluções naturais até porque elas não acontecem nesta matéria. Lutar, sim, pela equidade, pela justiça nos dois subsistemas e, relativamente a Leiria, lutar pela transformação (nada de natural nesta missão; natural é exatamente o contrário de cultural, social e político) do IPLeiria numa Universidade à altura da sua “região”.

No dia 22 de novembro, reuniram, em Lisboa, como também dei conta aqui, os Conselhos Gerais (CG) dos Institutos Politécnicos Portugueses, tendo a abertura da jornada sido feita pelo Presidente da República, professor doutor Marcelo Rebelo de Sousa.

Os presidentes dos CG quiseram mostrar o contributo dos Institutos Politécnicos para o desenvolvimento do país e lutar pelo uso da designação internacional de “Universidades de Ciências Aplicadas”, como forma de se promoverem junto dos estudantes estrangeiros.

As declarações do Chefe do Estado foram feitas para uma plateia de professores e alunos do superior durante um seminário sobre “o contributo dos politécnicos para o desenvolvimento do país”, que decorreu na Escola Superior de Tecnologia da Saúde, em Lisboa, e que contou com a presença de vários ex-ministros da Educação, como Eduardo Marçal Grilo.

Com o seu habitual discurso positivo e de boa disposição, Marcelo Rebelo de Sousa não só defendeu os Politécnicos como, também, referiu ansiar por lecionar no subsistema politécnico. A cereja no topo do bolo. Tudo, portanto, a manter quer por parte do governo quer por parte do PR.

Engana-me, pois, que eu gosto. É mesmo para citar Jorge Palma: “Deixa-me rir… Essa história não é tua… Falas da festa, do sol e do prazer… Mas nunca aceitaste o convite… Tens medo de te dar… E não é teu o que queres vender…”

Entretanto, o sr. reitor da Universidade de Coimbra (UC), professor doutor João Gabriel Silva, anunciou, no dia 24 de novembro de 2016, que a UC disponibilizou um plafond de 3 milhões de euros para a abertura de cerca de 70 concursos públicos para professores de carreira.

A maioria destes concursos abrirá já no início de 2017. Um bom exemplo nacional para combater a precariedade no Ensino Superior que no ensino politécnico é gritante.  Nos Politécnicos há mais de 36% de docentes a tempo parcial, vejam, só.

O ex-presidente do CCISP,  ainda assim, referiu que tal “não tem reflexo negativo na qualidade do ensino [...] Desta forma, podemos olhar para o mercado e ir buscar especialistas". Ora, que especialistas, pergunto eu? Ao preço da chuva? E o que são especialistas, perguntamos nós? Doutores não são especialistas, pergunta o País inteiro?

E quem faz a investigação necessária à sustentabilidade dos cursos, são os contratados precariamente? Não!

Efetivamente é mesmo preciso ser e parecer. Com precariedade não saímos da “cepa torta”.

"É MELHOR MERECER AS HONRAS SEM RECEBÊ-LAS DO QUE RECEBÊ-LAS SEM MERECÊ-LAS." (Mark Twain)


*Professor Decano do Instituto Politécnico de Leiria
Professor Coordenador Principal ESECS-IPLeiria e CICS.NOVA.IPLeiria

(O autor do texto segue as regras do Acordo Ortográfico de 1990)