Sociedade

Comandante nacional afastado teve papel decisivo no relatório sobre incêndio em Pedrógão Grande

27 out 2017 00:00

A razão é simples: "É quem estava mais dentro dos procedimentos da ANPC por motivos óbvios", apesar de "terem existido contributos de outros membros da CTI".

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O antigo comandante nacional operacional da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC), afastado há um ano pela tutela e pelo presidente da instituição, teve um papel decisivo na parte do relatório que arrasou o trabalho do comando no incêndio de Pedrógão Grande.

Segundo a TSF, a presença do antigo comandante nacional José Manuel Moura na Comissão Técnica Independente (CTI) levanta fortes críticas dentro da Protecção Civil.

A análise da ANPC feita ao relatório, enviada ao governo acusa partes do documento de ter "o propósito claro de levar o leitor a formular o juízo de que houve inépcia e inoperância do Comando Nacional".

Dos 12 peritos, seis foram nomeados pelo Conselho de Reitores e seis pelos partidos, sendo que José Manuel Moura, ex-Comandante Nacional escolhido durante o governo PSD/CDS, foi indicado para a CTI pelo CDS.

José Manuel Moura é um dos poucos que tem conhecimentos aprofundados na área da protecção civil e combate aos fogos.

Paulo Fernandes, da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro e um dos peritos da comissão, confirma à TSF que no combate ao fogo e na resposta da protecção civil José Manuel Moura foi a pessoa que mais trabalhou o assunto no relatório, o principal redactor.

A razão é simples: "É quem estava mais dentro dos procedimentos da ANPC por motivos óbvios", apesar de "terem existido contributos de outros membros da CTI".

Sande Silva, outro membro da comissão, admite que ouve uma distribuição interna de trabalhos pois era impossível estarem todos a fazer o mesmo, mas isso foi uma organização interna que é irrelevante e todos os 12 peritos subscrevem o que está lá escrito, preferindo não adiantar o papel de cada um no relatório.

Francisco Rego, investigador do Instituto Superior de Agronomia, também segue pela mesma linha: o trabalho é "sólido" e todos são responsáveis por tudo, apesar das "distribuições de trabalho".

O professor da Universidade de Lisboa admite que tendo em conta as áreas de especialização alguém foi mais responsável pela parte do combate ao fogo, sendo que José Manuel Moura foi de facto uma das principais pessoas a analisar essa área, mas o trabalho, defende, é coletivo.

"Todos temos algum conhecimento, não havendo capítulos assinados individualmente", afirma Francisco Rego.

A TSF tem tentado, há vários dias, sem sucesso, falar com o presidente da CTI. José Manuel Moura também foi contactado mas recusou fazer comentários, remetendo-os para o presidente da comissão criada pela parlamento.

TSF/Jornal de Leiria