Opinião

Com boas notas, mas sem competências para a vida

10 mai 2018 00:00

Para entrar 'naquele' curso do ensino superior, todas as décimas fazem a diferença. Por isso, são muitos os que durante o secundário pouco mais fazem do que trabalhar para a média. Não que isso lhes exija pouco esforço.

Reféns das notas. É assim que muitos alunos do secundário se encontram. Os três anos deste ciclo são passados a memorizar matéria, quer para 'despejar' nos testes quer para fazer os exames nacionais.

Para entrar 'naquele' curso do ensino superior, todas as décimas fazem a diferença. Por isso, são muitos os que durante o secundário pouco mais fazem do que trabalhar para a média. Não que isso lhes exija pouco esforço.

Só que há outros aspectos que acabam por ficar descurados. E a obsessão pelos resultados, muitas vezes incentivada pelos próprios pais, está a deixar muitos jovens à beira do colapso, como o JORNAL DE LEIRIA também já deu conta, numa das edições de Março.

Esta semana, no trabalho especial sobre educação, professores, pais e alunos falam do que está menos bem na escola e no sistema de ensino. Uma 'máquina' que tarda a reagir para acompanhar as mudanças da sociedade e ser capaz de preparar alunos com as competências necessárias.

Não apenas para o mercado de trabalho, mas para a vida. São os próprios alunos que chamam a atenção para algumas questões pertinentes. Por exemplo, a escola não lhes ensina a tratar do IRS.

Admite-se que tal possa não caber na função da escola. Mas sem dúvida que seria útil. É certo que hoje não há muito a fazer para entregar a declaração, basta confirmar o que já está pré-preenchido, mas mesmo assim há sempre aspectos fundamentais a ter em conta.

E não se pense que todos os adultos estão em condições de ensinar os seus filhos nesta matéria. Não estão. Porque muitos deles também não o sabem fazer. É velha a discussão sobre o que compete à família e à escola fazer.

Não colocando sequer em causa que é à primeira que cabe educar, no sentido de transmitir valores e regras, há que ter em conta que a escola não pode continuar a funcionar como há 20 anos.

Nem sequer como há dez. Salvo honrosas excepções, que as há, a verdade é que na maioria das escolas as aulas são ministradas da mesma maneira que o eram há duas décadas: o professor expõe a matéria e os alunos ouvem.

Por isso, como dizem alguns dos alunos ouvidos nesta edição, às vezes ir à escola “é uma seca”. E sê-lo-á não apenas para os alunos com maiores dificuldades mas também para os outros.

Porque, em ambos os casos, o sistema não os ajuda a desenvolver e a potenciar as suas capacidades, antes os 'obriga' a apreender matérias que estarão em avaliação nos testes e exames.

Quando estes estão ultrapassados, o que fica, realmente, daquilo que aprenderam durante o ano? Pouco. “O tipo de aulas está mais virado para a memorização do que para aaprendizagem”. A afirmação é de uma aluna de 17 anos e deve fazer-nos pensar.