Sociedade

Cidália Ferreira: “Para nós, marinhenses, a Mata não é privatizável”

16 nov 2017 00:00

A nova presidente da Câmara da Marinha Grande reconhece que era mais “confortável” governar com coligação e assegura que está disponível para distribuir pelouros pela oposição.

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Inicia o mandato com dois terços do concelho para reconstruir. O incêndio no Pinhal de Leiria obrigou-a a mudar prioridades para a Marinha Grande?
Obrigou a ter ainda mais prioridades. O concelho não deixou de existir e de exigir uma governação normal. Temos de nos focar naquilo que é essencial e que já tínhamos definido como prioridades. Depois, temos o acréscimo relacionado com o que aconteceu ao Pinhal do Rei e à perda de dois terços do nosso território. O desafio é enorme, mas estou convicta de que somos capazes de nos unir e de que, quando for chamada a plantar as 38.600 árvores que queremos plantar, a população vai ajudar-nos. Sei que é um valor simbólico, tendo em conta que se queimaram 1,2 milhões de metros cúbicos de madeira. Mas acredito que o País está connosco. Durante séculos, a Marinha Grande deu tanto ao País e foi prejudicada pela circunstância de dois terços do seu território serem Mata Nacional. Agora, que seja o País a olhar com especial atenção para a Marinha Grande e que retribua o que o concelho já deu.

Reclamou um milhão de euros para o Instituto de Conservação da Natureza e das Floresta (ICNF) investir no Pinhal de Leiria. Depois de casa roubada trancas à porta?
Na Marinha Grande sempre se defendeu que não podia sair daqui praticamente tudo o que a mata dava, que era necessário investimento no pinhal e que o concelho devia ser compensado por dois terços do município ser Mata Nacional. Todos os partidos políticos que passaram pela Câmara fizeram essa reivindicação. Nos dois últimos mandatos, com o PS na governação da autarquia, levantámos insistentemente estas questões junto das secretarias de Estado envolvidas. Agora, quando estávamos a conseguir junto do Governo que fosse dado um olhar diferente ao pinhal, aconteceu esta catástrofe. Esperamos que os serviços florestais da Marinha Grande, aos quais ao longo dos anos foram retiradas competências, recursos humanos e financeiros, voltem a ter o mínimo para uma gestão de proximidade do pinhal.

Que mínimos são esses?
Os serviços florestais locais deviam ter, pelo menos, três técnicos, 15 guardas florestais e 50 operacionais no terreno e um orçamento alocado na ordem de um milhão de euros. Além disso, a Câmara precisa de ver reflectido nas transferências do Orçamento do Estado (OE) a circunstância de dois terços do seu território ser Mata Nacional. Não pode ser considerada uma câmara normal. Por outro lado, nos próximos 75 anos não voltaremos a ter as árvores que tínhamos e, pelo menos, durante 25 anos não teremos floresta. Por isso, os Governos têm de olhar para o concelho de maneira diferente, com verbas e transferências suplementares do OE. O incêndio trará impactos ao nível da saúde, do turismo, do ambiente e até da actividade física. Não temos ainda a noção exacta dos valores em causa, mas seguramente são problemas que não conseguiremos resolver sem verbas suplementares. O transporte da madeira queimada, por exemplo, também irá afectar as nossas estradas. Precisamos de um fundo para acudir aos problemas que vão surgindo. Não o podemos fazer com o orçamento actual, porque está vocacionado para o restante concelho.

A Mata era um dos atractivos turísticos do concelho. Que estratégias vai ter a Câmara para continuar a atrair visitantes?
O concelho está bem dotado de infra-estruturas culturais. Vamos vocacionar- nos também para a área da cultura. Além dos nossos museus, temos belíssimas praias e há ainda os recantos da Mata que o fogo poupou e que têm de ser olhados de uma maneira muito especial. Nesse domínio, será necessário tirarmos o melhor partido dos conhecimentos científicos existentes. Há um mundo a reconstruir, o que exige um trabalho de conjunto. Acredito que o País está connosco.

Quando diz “País” está também a incluir o Estado, dono da Mata que durante os últimos anos não cuidou bem dela?
O ICNF [Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas] tem um problema em mãos para resolver e as mãos deles são as nossas mãos. Muitas vezes focalizamos os problemas em determinada entidade, mas essa entidade também teve as suas dificuldades. O ICNF teve falta de meios e de recursos para fazer mais pela mata. A Câmara quer ser um parceiro interventivo neste processo. Já foi pedido ao ICNF um estudo para a reflorestação da Mata. Em termos científicos, muita gente da Marinha Grande tem vindo à Câmara disponibilizar-se para colaborar.

A Câmara da Marinha Grande está disponível para assumir a gestão do Pinhal de Leiria?
Neste momento não é essa a intenção da Câmara. Se dotados dos meios necessários, os serviços florestais têm os conhecimentos para fazer uma boa gestão. A prioridade é reflorestar. Dos 11.080 hectares de mata, cuja exploração dava dinheiro para reinvestir - o que não foi feito -, temos agora pouco mais de 1.500 hectares. Vai a Câmara reflorestar? Com que meios e com que conhecimentos?

Afasta então a hipótese de uma gestão privada da Mata?
Afasto de todo. Para nós, marinhenses, a Mata não é pritivatizável. Deve continuar na esfera pública, a não ser que surjam estudos e dados que nos levem a repensar o assunto.

Será neste mandato que o novo mercado e a piscina municipal, projectos que se arrastam há anos, se tornarão realidade?
Esses projectos terão de avançar nestes quatro anos. Somos pioneiros em muita coisa. Temos o que há de melhor em termos de conhecimento e de trabalho no nosso concelho. As nossas empresas são de topo e temos uma zona industrial muito bem consolidada. Temos os melhores investidores e o melhor da tecnologia e da investigação ligada à indústria. Fomos também pioneiros com a piscina municipal. Há mais de 40 anos que temos, sem interrupção, aulas de natação para as crianças do concelho. Falta-nos agora uma estrutura maior, que dê outras condições. Estamos empenhados em pegar nesse assunto e em fazermos a nossa piscina municipal.

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