Opinião

A arte nos outros

27 fev 2017 00:00

Aconteceu-me num concerto reparar na distracção de alguém que olhava em volta algumas filas à frente e, dando-me assim simultaneamente conta da minha própria distracção, pude reflectir, no momento, sobre o que não me cativava.

Depois de um mês especialmente profícuo em actividades de fruição artística, dou comigo a pensar no papel que os outros desempenham na relação que estabelecemos com a arte, e na importância da sua presença como receptores da expressão de nós que nessa relação se produz; porque a forma como vivemos uma experiência artística nos exprime e contribui para enriquecer a experiência dos outros.

Não me refiro apenas ao prazer ou à importância de poder discutir o que se viu ou ouviu com alguém que viveu a mesma experiência, permitindo-nos pensar em voz alta, encontrar perguntas, desenhar respostas ou partilhar emoções; refiro-me à simples presença física de outros que, no mesmo espaço e relacionando-se com a mesma arte que nos provoca, se expressam de uma forma que poderá encontrar facilmente um eco em nós.

Aconteceu-me num concerto reparar na distracção de alguém que olhava em volta algumas filas à frente e, dando-me assim simultaneamente conta da minha própria distracção, pude reflectir, no momento, sobre o que não me cativava, ou não entendia, naquela passagem da peça contemporânea que ouvia; um andamento antes, o discreto acompanhamento do ritmo com que um músico movia o corpo tinha-me ajudado a reencontrar um compasso difícil e, com isso, a importante capacidade de sentir e produzir esse ritmo no meu próprio corpo.

*Professora de dança

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