Sociedade

Ana Luísa Costa: “Acho que até no funeral do meu pai me escapou uma piada. É quase compulsivo”

11 set 2016 00:00

Comédia, música, moda e turismo na Impressão Digital desta semana.

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Quando o Rui Sinel de Cordes lhe disse que ia subir ao palco e fazer stand up comedy, achou que era piada? 
Achei que o humor dele estava cada vez mais negro… E disse, vamos a isso! (enquanto me escorria um pingo de suor pelas costas abaixo).

Prefere humor negro, com bolinha vermelha, Monty Python ou Malucos do Riso? 
Prefiro que o humor seja inteligente, se assim for, qualquer género ou categoria me satisfazem.

E os trabalhos como actriz, ainda vão dar um Globo de Ouro? 
Infelizmente estou parada… Agora só há tempo para comédia, sketches e palco. 

Uma pergunta clássica: há limites para o humor? 
Não deveria haver. Para mim não há. Tal como disse anteriormente, havendo inteligência na abordagem de todos os assuntos, tudo é susceptível de ter piada, é natural e assim deve ser. Agora… Limite para a ignorância e mediocridade deveria existir. Vi o meu pai a definhar na sua fase final de vida, foram momentos muito, muito dolorosos e tenho um texto sobre isso que levo a palco. Rir é um bom remédio.

O objectivo é surpreender ou fazer rir? 
O meu é incomodar. Se acharem piada, excelente.  Os comediantes não têm a obrigação (sob pena de serem punidos) de fazer rir. O riso, a piada são relativos e nós não somos palhaços. Há quem se identifique, outros não.

Vive em Alfama e trabalhou na Mouraria. Nas marchas populares torce por quem?
Sempre torci por Alfama sem hesitar! (até porque podia levar porrada)

Os sonhos da Anita já não cabiam na Praça Rodrigues Lobo? 
Acho que nunca couberam porque estão relacionados com pandas. A Praça só tem um problema. Parece uma passerelle.

Quando lemos e ouvimos a Anita estamos perante uma personagem ou há ali alguma Ana Luísa Costa em modo psicanálise? 
Estamos sem dúvida perante uma personagem mas inspirada na Anita real. Tudo é muito autobiográfico e com um toque de ficção.  Eu sou uma tonta (no bom sentido). Acho que até no funeral do meu pai me escapou uma piada. É quase compulsivo.  Em palco não sou “eu”, a voz, as expressões, a postura. Mas quem me conhece, “reconhece-me” imediatamente. É simplesmente uma Anita exponenciada.

Alguma vez se arrependeu de uma piada?
Nunca.

Exemplo de uma boa piada, que passa dos limites, mas sem arrependimentos. 
Houve um espectáculo em que um “paneleiro” (permitam-me usar o termo) estava claramente alcoolizado e a perturbar as actuações de toda a gente, enquanto berrava no local sem freio nem respeito pelos comediantes e pelo público. Nessa noite fui headliner, fechei a noite, como já estava enervada decidi adaptar um texto (assim ligeiramente forte) que tenho sobre homossexuais e usei-o todo direccionado para ele. O público delirou. O rapaz fez queixa de mim ao dono do bar. Sem arrependimentos.

Parece que o mundo da stand up comedy é um mundo onde menina (quase) não entra. Porquê? 
Não sei. Porque não se atrevem? 

Quando sobe ao palco para dizer coisas marotas e leiloar filmes porno, ainda há quem fique embaraçado? 
É quase impossível ficar embaraçado. Eu faço tudo com delicadeza e cuidado para que nada se torne vulgar ou gratuito. Já o fiz com crianças e respectivos pais presentes. 

Em quanto está o máximo de dinheiro angariado num leilão de filmes porno pela Anita?
Zero… Sou péssima a fazer dinheiro. No final devolvo sempre. E fico com o DVD, há sempre aquele valor sentimental.

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