Sociedade

A alegria de ser avó em idade de ser mãe

27 jul 2017 00:00

Quando a maternidade tende a ser cada vez mais tardia, há quem seja avó aos 40 anos. Mais energéticos, mas menos disponíveis, eis os avós sem cabelos brancos

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Daniela Franco Sousa

Numa sociedade em que ter filhos é cada vez mais uma opção tardia, há quem seja avô antes de ter completado 40 anos. Ontem assinalou-se o Dia dos Avós e o JORNAL DE LEIRIA foi conhecer os medos, as preocupações e as alegrias de quem viu nascer netos quando ainda podia ser pai ou mãe.

Foi com “um misto de sentimentos” que Ana Lúcia Calado recebeu a notícia de que ia ser avó. A sua filha Cheila tinha apenas 17 anos quando foi mãe da Lara, o que fez de si uma avó de 38 anos. “Foi um choque, porque quer a minha filha quer o namorado dela eram muito jovens. No entanto, foi uma novidade automaticamente aceite”, contrapõe Ana Lúcia.

Quando os netos chegam tão cedo nem tudo são rosas, sublinha Ana Lúcia. Por um lado, uma avó na casa dos 40 anos terá muito mais energia do que terão outras senhoras de 60, compara Ana Lúcia Calado.

Ser avó aos 40 “é quase como ser mãe outra vez”. Tem-se “mais disposição para brincar com a criança”, seja a chapinhar na piscina, seja nos passeios na mata ou em tropelias com o cão, exemplifica. No seu caso, tão jovem é a avó que os desconhecidos julgam sempre que a pequena Lara é sua filha. “Quando me chama avó, até viram a cabeça para confirmar.”

Mas, por outro lado, ser avó nesta fase da vida também traz dificuldades. Um dos contratempos mais comuns entre os jovens avós é terem netos quando estão em plena idade activa. Neste campo, felizmente, Ana Lúcia reconhece que tem a seu favor o facto de poder trabalhar por conta própria, o que lhe permite coordenar a agenda profissional com as necessidades da família.

Neste clã da Marinha Grande, ser avó sem cabelos brancos não é novidade. A própria Ana Lúcia foi mãe de Cheila quando tinha 21 anos, transformando Zulmira Fazendeiro, sua mãe, numa avozinha quando ainda estava na casa dos 40 anos. Mas a situação era diferente, repara Ana Lúcia. “Eu já trabalhava quando tive a Cheila e ela ainda andava na escola quando teve a Lara.”

Tendo sido mãe na adolescência e para que Cheila não perdesse por completo a ligação aos amigos, coube à avó e à bisavó Zulmira ficar algumas noites com a bebé. A vida social da jovem ficou assim assegurada. Contudo, ficou suspenso o projecto profissional de Cheila que passava por tirar um curso de fotografia. Com a chegada de Lara, os estudos não foram além do secundário.

Um pilar na educação da neta Cheila, e agora na educação da bisneta Lara, Zulmira Fazendeiro também nota que a energia que tivera para cuidar da neta não é a mesma que tem agora para acompanhar a bisneta. Aos 40 ainda trabalhava e conseguia dedicar todo o tempo disponível para brincar com Cheila.

Hoje, com 68 anos, Zulmira continua a ser um grande apoio, mas já tem de se socorrer do infantário. O seu espírito “protector”, esse mantém-se.

O dia da jovem bisavó começa às 6 da manhã. É ela quem leva e traz a criança da escola, quem a deixa na natação, quem trata e brinca com ela quando a mãe não está. Tal como aconteceu com a neta, cuidar da bisneta é agora aquilo que a faz sentir útil. “É uma vida de trabalho, mas também de prazer”, frisa Zulmira.

O que mais lamenta é que Cheila tenha perdido a oportunidade de estudar, porque como mãe “está a dar conta do recado”, reconhece a bisavó.

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