Opinião

Acelerador de políticas

1 jun 2018 00:00

O retrocesso civilizacional invocado pelo PCP para rejeitar a legalização da Eutanásia é um argumento politico deprimente.

É verdade que a nossa democracia pode ser jovem, formosa e segura mas os representantes eleitos para a casa que a alberga , deixam muito a desejar. Vê-los em acção, é muitas vezes uma experiência que desarma a melhor das nossas vontades em compreender as regras do jogo.

Particularmente, nas questões “fracturantes”, mesmo quando estes são assuntos do domínio da Medicina, parece-me a mim que se escolhe mal a argumentação e a altura para se ser politico de cartilha, fiel ao “sentido histórico” do partido.

Na altura do referendo do aborto foi lamentável o recuo de anos protagonizado pelos defensores politicos do Não, que conseguiram conferir um ar medieval, de inspiração católica, a uma questão de saúde, planeamento familiar e de escolha democrática.

Outro exemplo, é o caso da despenalização das drogas leves (o contexto do debate foi curto e tendencioso) Sempre achei os políticos de esquerda mais engajados, activos no contacto com a realidade, com a população, mas parece que nem essa vantagem lhes permitiu ver as coisas como elas são. Uma oportunidade perdida.

O retrocesso civilizacional invocado pelo PCP para rejeitar a legalização da Eutanásia é um argumento politico deprimente. Porque sendo quase bíblico, representa uma posição que bem  justifica o nó cego que é politizar a Ética e a Ciência.

Saber que são pessoas que seguem cartilhas, birras partidárias, que são capazes de mudar o sentido de voto por dá cá aquele queijo ou parque industrial; que decidem sobre a dor e sofrimento de uma vida que já expirou, de um corpo que já não consegue mais, de uma mente preparada para deixar o mundo, sem (por favor) mais ais ou dores excruciantes (físicas ou mentais), é preocupante.

Muito preocupante.

Nem todos os materiais se podem meter no grande acelerador politico dos deputados. Há coisas complexas que encravam o que a humanidade devia ganhar. Ou então teremos nós de puxar a ficha a este respirador politico, avaro no oxigênio que nos sopra para a boca mas que nos enche de decisões tóxicas que nos envenenam toda a esperança até a de uma morte indolor e responsável, decidida por nós e por quem nos quer bem.

*Músico