Opinião

Tempestade antieconómica

19 jan 2017 00:00

Apesar das promessas de protecionismo, que terão um resultado desastroso caso sejam implementadas como prometido, a verdade é que um relógio parado está certo duas vezes por dia.

Nestas páginas discutimos amplamente, ao longo dos últimos anos, a questão dos problemas do emprego no século XXI. Evidenciámos a problemática da automação, da inovação tecnológica e da intensificação digital, que leva à substituição do imaterial e à criação de uma economia mais fortemente baseada no conhecimento e criatividade.

Este fenómeno, aliado à “equalização” gerada pela globalização (países mais pobres a sair da pobreza e ricos a estagnarem), ao crescimento da produtividade sem aumento salarial (ou com a exclusão de imensas pessoas desta “economia moderna”) e à remuneração crescente do capital versus vários tipos de trabalho, tem levado ao aumento da desigualdade e à crescente insatisfação social. O populismo tem tirado partido desta situação apresentando soluções fáceis, mas falaciosas, para problemas complexos e globais.

Donald Trump é um pináculo desse populismo, defendendo algo próximo do “corporativismo” (onde algumas empresas capturam não só o regulador como o Estado, criando obstáculos à concorrência), muito distante do liberalismo implícito na matriz republicana. Na verdade, a própria Europa sofre destes males (captura de regulação, nacional e europeia, por grupos, bem como um crescente populismo). Apesar das promessas de protecionismo, que terão um resultado desastroso caso sejam implementadas como prometido, a verdade é que um relógio parado está certo duas vezes por dia.

*Diretor executivo da D. Dinis Business School e docente do IPLeiria
Texto escrito de acordo com a nova ortografia