Opinião

Roménia

31 jan 2019 00:00

Sabes aquilo que dizem das árvores, que morrem de pé? Se calhar é parecido com os comboios, devem morrer inteiros e sobre os carris; de pé.

Sabes o que mais me impressionou? A enorme quantidade de vagões de comboio abandonados em linhas secundárias, nas proximidades das pequenas estações por onde ia passando. Pareceu-me mesmo impressionante.

Olhava as carruagens, dezenas delas, de diversas cores, de diversas formas e modelos e funções, de diversos tempos; ordenadas em longas filas, como se pudessem ser usadas uma vez mais; como se alguém as tivesse deixado ali provisoriamente, com a expectativa de lhes dar utilidade no dia seguinte, na semana seguinte; mas os dias passam, as semanas passam.

E como tantas vezes acontece, o tempo passa e nada traz; apenas mais tempo. Impressionoume aquela visão de abandono, de decadência.

Olhava e perguntava-me: o que esperam que aconteça a todos estes vagões? Que desapareçam por si próprios, que se dissolvam no ar? Que morram devagar? Quanto tempo demora um comboio a morrer?

Sabes aquilo que dizem das árvores, que morrem de pé? Se calhar é parecido com os comboios, devem morrer inteiros e sobre os carris; de pé.

No fundo, talvez os estejam a deixar morrer com dignidade. Talvez fosse mais triste se os desmantelassem e reciclassem as peças, se fizessem panelas ou martelos com o metal.

Percebi que há uma certa dignidade em deixá-los assim: comboios que nunca mais irão marchar, sobre linhas férreas que nunca mais serão percorridas. Uma espécie de homenagem, não?

E desse modo, a memória da passagem de todas as pessoas que ocuparam aqueles comboios, os risos e os choros e

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