Opinião

Quem vai à frente...

4 jan 2018 00:00

Sem que a esmagadora maioria da população tenha noção disso, somos muito provavelmente dos países mais ricos da Europa, sendo que vamos vivendo como se o nosso território terminasse onde o mar começa.

A aposta do Politécnico de Leiria na investigação dos recursos marinhos, materializada no MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente, e no Cetemares, um moderno edifício com cerca de 2000 m2 de laboratórios com equipamentos nas áreas da biologia, pescas, aquacultura, biotecnologia, química, microbiologia e tecnologia dos alimentos, poderá bem vir a revelar-se a decisão mais acertada da sua história.

Sem qualquer tipo de desconsideração pelas outras áreas de actuação do IPLeiria, onde se destacam as engenharias, absolutamente fulcrais para a indústria da nossa região, e as artes, determinantes para a afirmação de qualquer civilização, a verdade é que o futuro de Portugal terá de passar pelo mar, provavelmente a sua maior riqueza e certamente a que mais negligenciada tem sido.

Apesar dos alertas de destacados especialistas para as suas potencialidades e dos apelos para que Portugal invista nesse recurso, facilmente se percebe que estamos muito longe de explorar convenientemente essa enorme riqueza com que fomos bafejados, limitando-nos quase exclusivamente à utilização turística e piscatória.

Sem dúvida, um contrassenso face à luta que travamos há anos para o alargamento da plataforma continental, uma ambição que, a concretizar-se, levará Portugal a ter jurisdição sobre um espaço marítimo total que ultrapassaria os 3,8 milhões de quilómetros quadrados, o que seria mais de 40 vezes a área do território emerso.

Mesmo com essa pretensão por resolver, Portugal tem já uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) de 1,7 milhões de quilómetros quadrados, a terceira maior da União Europeia e a 11.ª do mundo, uma área sobre a qual tem jurisdição na coluna de água, no solo e no subsolo, bem como em tudo o que lá se encontrar, seja petróleo ou gás natural, sejam recursos minerais (como ferro, manganês, cobalto, níquel) e recursos biológicos e genéticos (como bactérias para novos produtos de biotecnologia e medicamentos).

Ou seja, sem que a esmagadora maioria da população tenha noção disso, somos muito provavelmente dos países mais ricos da Europa, sendo que vamos vivendo como se o nosso território terminasse onde o mar começa.

Será certamente por pouco tempo, pois os estudos sobre as potencialidades, nomeadamente medicinais, do que se encontra no fundo do mar trarão pressão para que se invista na sua exploração. Como em tudo, quem vai à frente leva sempre vantagem e nesta questão não será diferente.

O investimento que IPLeiria tem feito em investigação e produção de conhecimento ligados ao mar terá um retorno difícil de calcular, mas será, certamente, elevado, quer economicamente quer em termos de notoriedade. Espera-se, portanto, que o que saiu do Cetemares, apesar de meritório e merecedor dos maiores elogios, seja apenas a ponta do icebergue.