Opinião

Quando a "LeiriaCon" apaixonou os boardgamers de Leiria

1 mar 2018 00:00

Em 2010, fui com um amigo explorar uma coisa estranha que se chamava LeiriaCon, organizada pela Spiel Portugal. Tínhamos descoberto que na Nazaré se fazia uma convenção de jogos de tabuleiro.

Como era gratuito e ficava perto decidimos ir lá. Ambos jogámos bastante Magic: The Gathering, mas anos antes tínhamos passado a jogar com regularidade Settlers of Catan.

Por isso, quando fomos à nossa primeira LeiriaCon ficámos em choque. Estavam lá dezenas de jogos diferentes, centenas talvez. As pessoas pareciam ser ainda mais do que os jogos.

Eram mesas sem conta, onde grupos de duas a seis pessoas, quase todas adultas, jogavam coisas estranhíssimas. Por que raio nunca tínhamos ouvido falar disto? Para aquela gente toda estar por ali é porque a coisa tinha de ter algum interesse. Voltámos no ano seguinte, trouxemos mais gente e dessa vez jogamos coisas novas.

Estarrecidos, não nos limitámos a ver. Nunca mais deixámos de ir e as nossas coleções de jogos começaram a crescer. Os jogos de tabuleiro passaram a ser uma atividade habitual entre amigos e família. Depois descobrimos a plataforma Abre o Jogo e que se organizavam encontros mensais às sextas-feiras à noite na Marinha Grande.

Começámos a ir sempre que podíamos para experimentar jogos diferentes. Numa dessas noites, a malta da Spiel Portugal, que organizava esses eventos, perguntou-nos se queríamos começar a fazer encontros semelhantes em Leiria.

Encontrámos uma associação que nos acolheu e, em 2014, começamos a fazer os encontros semanais da cidade de Leiria na sede da Associação Fazer Avançar, dando continuidade aos encontros de Boardgamers de Leiria que tinham nascido na Marinha Grande pela Spiel Portugal.

Garantimos regularidade e lentamente fomos construindo um grupo de apaixonados por jogos de tabuleiro na nossa cidade. Criámos um público específico de forma orgânica e informal. Depois tudo aconteceu com naturalidade.

Começámos a transformar este passatempo numa forma de intervenção social: passámos a ir a escolas, hospitais, associações seniores. Fizemos candidaturas a orçamentos participativos também. Formaram-se parceiras e surgiram múltiplas solicitações.

Não tendo quase nada, muito menos dinheiro, tínhamos o mais importante: voluntários socialmente conscientes e apaixonados por jogos de tabuleiro. Em 2018, todas as pessoas que se envolviam nos encontros de jogos de Leiria ajudaram a criar a ***Asteriscos, para que tivéssemos um novo modelo de associativismo, mais apropriado para transformar a nossa paixão em novas formas de intervenção, integração e convívio social.

Dessa iniciativa surgiu de imediato o aprofundamento da nossa parceira, já antiga, com a Spiel Portugal. Estamos cada vez mais envolvidos na LeiriaCon. A mais antiga e maior convenção de jogos de tabuleiro em Portugal começa hoje, dia 1 de Março.

Se, nos anos anteriores, já ajudávamos na gestão da ludoteca e nas explicações das regras dos jogos aos novatos, este ano vamos gerir uma sala dedicada às crianças e famílias. Vamos também organizar uma conversa aberta, uma espécie de convenção dentro da convenção, entre representantes de grupos, associações e clubes de boardgamers que fazem atividades semelhantes às nossas pelo país fora.

Vai ser algo inédito! Este tipo e voluntariado e associativismo com jogos de tabuleiro é um claro exemplo do que defendemos para as atividades e funcionamento da ***Asteriscos: um voluntariado sustentável porque tem por base pessoas que se divertem a fazer o que gostam enquanto realizam atividades socialmente relevantes.

*Vice-Presidente da ***Asteriscos e coordenador dos Boardgamers de Leiria