Editorial

Precisamos de uma cura para a habitação e não de analgésicos

2 out 2025 08:01

Os senhorios “não são a santa casa da misericórdia” e os arrendatários necessitam de apoio do Estado, quando um azar da vida lhes bate à porta

No final da reunião do Conselho de Ministros da semana passada, o Governo apresentou várias medidas para solucionar o problema da falta de habitação. Ou melhor, da subida descontrolada de preços e do valor das rendas. As críticas apareceram logo e focaram-se, em especial, em conceitos como o de “renda moderada até 2.300 euros”, como “consequência de uma vivência do Executivo, dentro de uma bolha”, longe do Portugal real.

Façamos outro exercício. A construção de habitação pública, o controlo de preços, os incentivos fiscais e a regulação do alojamento local são medidas que têm sido debatidas, mas qual é a eficácia das soluções propostas? Será que atacam as causas estruturais do problema ou apenas os sintomas? São a cura ou apenas mais um analgésico? As medidas propostas conseguem conciliar o direito à habitação com os direitos de propriedade? E como proteger os inquilinos sem desincentivar os proprietários? E como proteger os proprietários, quando o inquilino não cumpre?

Afinal, como diz Diamantino Caçador, promotor imobiliário ouvido nesta edição, os senhorios “não são a santa casa da misericórdia” e os arrendatários necessitam de apoio do Estado, quando um azar da vida lhes bate à porta. Nestes anúncios do Governo falta ainda uma outra questão, a temporal.

É necessário ter noção e explicar à população que medidas de mitigação que passem pela construção de novos fogos demorarão, no mínimo, uma década a produzir efeitos.

Sejamos práticos, esta é uma oportunidade única para repovoar e contrariar o despovoamento no interior do País. Se as casas são caras nas grandes áreas metropolitanas, por que não criar condições económicas, de saúde e de serviços onde é mais barato viver? A solução não é fácil, mas há doenças que dispensam analgésicos, pois podemos ficar viciados neles e ficar muito piores, no final.

Também para ler nesta edição, o desafio é “mexa-se, pela sua saúde” e centenas de pessoas na região escutaram-no e abraçaram-no. A prática do pedestrianismo tem cada vez mais adeptos, que, todos os fins-de-semana, sobem serras, descem vales, atravessam rios e percorrem dezenas de quilómetros pela saúde, pelo convívio e pelo chamamento da natureza. Faça chuva ou faça sol, os percursos pedestres são uma forma popular de desporto de baixo impacto.