Opinião

Pascoela – festa de Nª. Srª. dos Prazeres

4 abr 2016 00:00

O domingo da Pascoela marcou o calendário rural: era o dia em que «começava a sesta», um descanso de 1 ou 2 horas a que tinham direito os trabalhadores rurais durante as horas de canícula, horas pagas.

Neste domingo, ia-se aos montes, a uma festa ou capela, para «esperar a sesta»; regressava-se com um ramo de flores silvestres («a sesta») que se guardava em casa. No calendário católico, era a festa de Nª. Srª dos Prazeres.

Trata-se de uma invocação de origem popular, exclusivamente portuguesa, já registada no séc. XIV e instituída oficialmente pelo Papa para Portugal a pedido de D. João V (sec. XVIII) que apontou a sua importância na tradição portuguesa.

Foi das invocações mais assinaladas em todo o País. No distrito de Leiria há várias capelas e paróquias sob o orago «Senhora dos Prazeres», nomeadamente Alcaria e Aljubarrota.

Eu, em miúdo, ia com os meus vizinhos à Srª. do Monte (que, oficialmente, é «dos Prazeres»), na freguesia das Cortes Diz a literatura católica que o nome da Senhora, «dos Prazeres», significa «as alegrias que sentiu Maria pela ressurreição de Jesus». Ora, isso seria Nª Srª das Alegrias.

As imagens dos Prazeres nunca se representam com Jesus ressuscitado mas com o menino ao colo e, na mão, um ramo de flores ou espigas. Depois, o termo e o conceito «prazer» não se coadunam com a religião católica; evoca hedonismo ou gozo do corpo e dos sentidos, algo de estranho â espiritualidade católica.

Vejamos isto: na Bíblia, Deus estabelece que a festa da Páscoa judaica terminará 7 dias depois com a oferta, no Tabernáculo, de um ramo ou feixe («Omer») de cevada como oferta de primícias das searas (que, nesta região do Globo, já prometiam; segundo os historiadores da Bíblia.

Trata-se dum ritual dos cananitas (fenícios) que os hebreus adoptaram. A festa portuguesa tem essa origem. O nome «dos Prazeres» é uma adaptação fonética: procede de «pr’ zr» [leitura: perá zer] que, na língua dos hebreus, fenícios e cartagineses, significa «primícias + da cevada».

Claro como água. Foi uma festa fenícia que passou a judaica, e judeo-secreta. O domingo de Pascoela tem um historial de perseguições (ou «progroms») aos judeus em toda a Europa e dos cristãos-novos em Portugal.

Foi nesse domingo de Pascoela que, em Lisboa, em 1506, ocorreu o massacre de 4.000 judeus, na sequência dos desacatos na igreja de São Domingos. Em Gouveia, numa Pascoela anterior, ocorrera uma perseguição semelhante contra os judeus locais.

Num processo da Inquisição do séc., XVII, vemos que um rico cristão-novo de Viseu foi condenado por ter mandado construir, em Abravezes (Viseu), uma igreja em honra de Nª. Srª dos Prazeres com este subterfúgio: «para os católicos, a imagem era de Nª. Srª dos Prazeres mas, para os judeussecretos, era a Santa Rainha Ester»(a Imagem ainda lá impera).

Ester foi uma heroina bíblica que salvou do extermínio os judeus exilados em Babilónia (sec. VI. a.C.). As imagens da Srª dos Prazeres que se representam com um menino ao colo e um ramo de flores (ou espigas) na mão teve duplo culto; hoje diríamos que foi um culto ecuménico.

Razão suficiente para ir até à festa da Senhora dos Prazeres que se celebra perto de si neste domingo de Pascoela.

Sociólogo das Religiões