Opinião
Os solos precisam de ser protegidos por todos
Formar um centímetro de solo demora centenas de anos, em comparação com o processo de degradação, que pode ser bastante rápido
A vida na Terra depende dos solos. São os solos que nos fornecem alimentos saudáveis, água limpa, habitats para a biodiversidade e que capturam carbono que existe na atmosfera e que causam as alterações climáticas. Os solos são o maior depósito terrestre de carbono do planeta, armazenando mais carbono do que as árvores, por exemplo. Noventa e cinco por cento dos alimentos de que necessitamos dependem de solos saudáveis e vinte e cinco por cento da biodiversidade encontra-se no solo.
Apesar de todos estes benefícios, mais de metade dos solos europeus não se encontram em bom estado de conservação. A sua degradação já está a afetar o setor agroalimentar, com prejuízos no valor de 1250 milhões de euros por ano, segundo o Joint Research Centre, o serviço de ciência e conhecimento da Comissão Europeia, que fornece aconselhamento científico independente e apoio técnico aos responsáveis pela formulação de políticas da União Europeia. Além disso, formar um centímetro de solo demora centenas de anos, em comparação com o processo de degradação, que pode ser bastante rápido, nomeadamente através da artificialização e impermeabilização dos solos.
Para lidar com este flagelo, o Conselho da União Europeia aprovou, em setembro de 2025, a primeira diretiva comunitária dedicada à monitorização dos solos. O documento pretende definir o enquadramento para avaliar o estado dos solos nos terrenos agrícolas e naturais nos Estados Membros, para alcançar a meta dos solos saudáveis até 2050.
A monitorização deverá incluir aspetos físicos, químicos e biológicos, e a informação recolhida será tratada pela Agência Europeia do Ambiente, de modo a que sejam definidas medidas de combate à desertificação pela Comissão Europeia. Para além da monitorização do solo, está também a ser considerado o controlo de poluentes emergentes, como pesticidas, microplásticos e os chamados poluentes eternos, como os PFAS.
Até que existam mais avanços legais, é importante que os setores que dependem diretamente dos solos possam encontrar os parceiros que os ajudem na melhoria da saúde do solo e no aumento da sua produtividade. A Parceria Portuguesa para o Solo é uma rede nacional de universidades, organismos públicos, associações agrícolas e florestais, dedicada à melhoria da gestão do solo, de modo a garantir a existência de solos saudáveis e produtivos, indispensáveis à segurança alimentar, bem como a outros serviços essenciais dos ecossistemas. Os laboratórios colaborativos e associações podem ajudar os utilizadores do solo a adquirir maior conhecimento sobre a sua terra, como é o caso do Colab Food4Sustainability e a associação Arruda Lab.
Texto escrito segundo as regras do Novo Acordo Ortográfico de 1990